Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Você usa?

A Motorola encomendou ao instituto Gallup uma pesquisa para saber para que os donos de telefone celular usam a engenhoca. Para começar, descobriram que o lugar onde mais se fala ao dito cujo é na terra da bolsa furada, Hong Kong – lá, 93% usam diariamente. Deve ser mais usado do que papel higiênico. Já pensou se eles se enganam? Corri para saber o que eles conversam tanto no aparelhinho. Afinal, poderia estar ali o motivo da catástrofe que se anuncia todas as manhãs – Hong Kong é o primeiro pregão que abre no mundo e deixa os economistas em polvorosa. Que nada. O pessoal lá utiliza essa jabiraca, em primeiro lugar, para agendar reuniões. Depois, para dizer que vai se atrasar, em seguida, para fechar negócios, em quarto para dizer “olá” e, em quinto lugar, “para solicitar auxílio mecânico, porque o carro quebrou”.

Na Inglaterra, quem diria, a celebrada pontualidade britânica está indo para o beleléu com o advento desse telefone. Na terra onde fica a casa da sogra da Diana, a maioria das ligações já é feita para dizer que vão se atrasar. Antigamente, para não chegar tarde, nem cedo, o inglês era capaz de furar o “zóio” da mãe. Verdade! Nos tempos de Viracopos, quando os aviões da British United Airwais (a BUA) chegavam adiantados, voavam no céu de Campinas à espera da hora certa para pousar. Depois de se desculpar pelo atraso, o inglês telefona mais para marcar reuniões; só para dizer “olá” ou onde está e para lembrar a mulher amada: “Te amo”. Esse também é o terceiro motivo das ligações entre os mexicanos e o quarto, para norte-americanos e canadenses.

Hong Kong é o único lugar onde ninguém pega no celular para falar “te amo”. Mas garanto que se uma cédula de dólar falasse ali, não ouviria outra declaração naquele porto. Em compensação, 69% dos “hongkonguenses” dizem que as amizades se fortaleceram com a chegada do celular e 56% constataram melhora nos romances. Quem não consegue se declarar olhando nos olhos, usa o celular e diz no ouvido. Nos Estados Unidos, mais da metade dos pedidos de casamento é feito dentro dos automóveis. Será que esse telefone sem fio vai desbancar o carro? Também, Hong Kong é o único lugar onde pegam o celular para chamar o guincho. Nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e México, pelo jeito, os carros não enguiçam. Ou os motoristas não têm celular. Vai saber…

E se existisse telefone celular no Brasil? Quer dizer, existe, mas não funciona. Quando ele completa uma ligação, é sem querer. Ligação rapidinha, como a dos coelhos (e coelhas): “Vai ser gostoso, não foi?” E sai do ar. Como eles são incertos e só ligam nas horas incertas, a Motorola, acredito, não encomendou a pesquisa no Brasil. Qual seria o resultado? Em quinto lugar, seria o Fernando Henrique implorando à Dona Ruth que não volte das compras cheia de pacotes. Em quarto, seria o Pitta, pedindo para a Nicéa não fazer frango no almoço. Em terceiro, o Beto Zini demitindo mais um técnico. Em segundo, nosso prefeito convidando o governador para uma cerimônia do “lavamãos” e em primeiro lugar, o Alecrim de Campinas, abatido na porta da Catedral, convidando para a missa do Sétimo Dia de seus irmãos do Castelo. Só não sei que padre rezará essa missa. Como nossos celulares, também estão quase todos “ocupados”, fazendo do púlpito, palanque.

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