Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1997Crônicas

Que cachorrada!

E não é que a prefeitura de Campinas inventou um Doi-Codi pra cachorro? É! E pra cavalo também. A mais nova crueldade cometida contra os cidadãos caninos e eqüinos da cidade foi descoberta e denunciada pela nossa Renata Veríssimo. A trama é igualzinha à do sinistro general Ednardo D’Avila Melo, que Deus já levou, contra os que pensavam diferente dos militares durante a ditadura. Prende, mantém sob custódia e manda matar. Esse pessoal do ‘seu’ Pagano é valente pra cachorro!

Diz a Renata: “Os animais mantidos pelo Centro de Zoonoses da Secretaria de Saúde de Campinas estão morrendo de fome e sendo sacrificados, por falta de alimentos e de espaço. A denúncia é dos funcionários, indignados com o que consideram descaso do serviço público. Em apenas um ano, garantem, foram mortos pelo menos 1,5 mil cavalos e cachorros. Há um ano, os animais só comem capim e comida doada pelos moradores vizinhos ao local. A reportagem do Correio esteve ontem de manhã no canil do Centro de Zoonoses, no Jardim Boa Vista, e presenciou o sacrifício, por choque elétrico, de mais um animal. Todo dia vai um caminhão para o aterro sanitário Delta 1 carregado de animais mortos. Este ano, a Prefeitura não comprou alimentos para os animais. A primeira compra da administração Chico Amaral só será realizada em janeiro”.

Até lá, portanto, a matança programada continua.

Não sei se era lenda ou verdade, mas nos tempos de antanho, diziam que a “carrocinha” levava os cachorros soltos pelas ruas para um lugar onde eram mortos, se não fossem procurados pelos verdadeiros donos, num prazo determinado. “Depois de mortos, fazem sabão com eles”, dizia minha avó. Sei não.

Não sei como está hoje, mas naqueles mesmos tempos de antanho, os cachorros usavam uma coleira de couro, com uma plaquinha de metal, que identificava o dono e seu endereço — uma espécie de licença dada pela Prefeitura, justamente para evitar o “canicídio” indiscriminado. Uma atitude mais humana, digo, mais canina, das autoridades municipais. No fundo, no fundo, um jeito de livrar a cara dos funcionários da “carrocinha”, então as pessoas mais odiadas da cidade, principalmente pelas crianças.

Essa amizade que une o homem ao cachorro nem Freud explica. Se você atropela um homem na rua, ninguém se revolta. Mas se você atropelar um cachorro, fuja, porque poderá ser linchado. Por isso, todo mundo prefere ter um cachorro amigo a um amigo cachorro…

Não tenho bem certeza, mas por incrível que pareça, no Brasil, a Sociedade Protetora dos Animais é mais antiga que as entidades organizadas de defesa dos direitos humanos. Elas não vão se manifestar, fazer passeata, invadir a prefeitura, distribuir panfletos de protesto, bloquear ruas e avenidas, entrar em greve? Não haverá culto ecumênico em homenagem aos animais assassinados nas dependências do Doi-Codi, digo, do canil?

Se bobear, ‘seu’ Pagano é capaz de imitar aquele sinistro general e anunciar que os cachorros e os cavalos se suicidaram. De quem anda de braço dado com o Salim Maluf pra baixo e pra cima, pode se esperar tudo.

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