Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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O boi bebeu

Enquanto em Barão Geraldo o boi “fala”, no mundo, ele “bebe”. A humanidade está ficando com sede e todo mundo diz que a água vai acabar. Até o Gilberto Gil. O medo é assunto de colunas sociais, provando que já preocupa os ricos. E quando os ricos ficam preocupados, é sinal de que os pobres estão se ferrando há muito tempo. A falta d’água deixou de ser conversa de “ecochato” para entrar na conversa de cientistas sérios.

Alguns números divulgados por universidades européias e norte-americanas assustam. Há dez anos, seriam apenas curiosidades, mas o alarme disparou. É melhor trocar o bife com arroz por frango com batata: para cada quilo de carne, um boi consome, nos seus três anos de vida média, 100 mil litros de água. E um quilo de arroz, até chegar ao prato, 1.910 litros. Um hambúrguer com batatas fritas e um refrigerante, 5.300 litros. A produção de um único hambúrguer exige tanta água quanto 40 banhos de chuveiro (795 litros).

A calça jeans que o jovem usa na lanchonete para comer aquele cardápio horrendo precisa de 25 mil litros pra ficar pronta. Para se tingir um quilo de tecido, 54 litros. E a máquina para lavar aquela calça, 150 litros cada vez. Um banho de 15 minutos “custa” 195 litros. Para fabricar apenas um carro, a montadora gasta 150 mil.

Espantado? Há alternativas. Um frango bebe “só” 3.500 litros de água por quilo de peso e um quilo de batatas, 500. A soja, dois mil; o milho, 1.400 e, se você quiser economizar mais, o trigo e a alfafa consomem 900. Ninguém pesquisou, mas quantos de litros de água um peixe bebe por dia?

As mesmas pesquisas indicam que cada brasileiro tem à sua disposição 46 milhões de litros de água por ano e cada árabe, naquele deserto, dois milhões. Se eles brigam por petróleo, a guerra pela água também vai começar por lá. Em vez da “terra prometida”, disputarão a “água prometida”. Mas no Brasil, a população chega ao requinte de lavar calçada com flúor. Não é um luxo? Digo, não é um desperdício?

Pregado no poste: “Sócrates bebeu cicuta ou suquita?”

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