Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Velhas máquinas envenenadas

Tirando a bicicleta do Mané Fala Ó e as carroças do Dito Colarinho e do seo Armando, verdureiro – até hoje, os veículos mais famosos da história de Campinas — a cidade teve alguns carros marcantes, que, de longe, identificavam o dono. Por exemplo: você não reconhecia à distância o Cadillac rabo-de-peixe, cor de vinho, do nosso ilustre prefeito Miguel Cury? Ninguém criticava a pompa e a circunstância do seo Miguel por ter um carro daquele, máximo luxo e requinte. Um orgulho para nós, cidadãos, porque aquele “palácio rodante” tinha sido comprado com o dinheiro de um homem trabalhador, respeitado por seus funcionários e que punha todo aquele conforto pessoal a serviço da cidade – jamais colocou os bens da cidade a serviço do seu próprio conforto. Naquele tempo, era assim.

No desfile por nossas ruas, esteja certo, os motoristas faziam mais sucesso do que seus carros. Como o relojoeiro Caetano Faillaci e seu Ford azul, ano 53. Seo Oscar Rossi e seu Cônsul vermelho, seguido de perto por Manuel Henriques, o querido Mabelis, e seu Renault Teimoso, e os Prefect verdes (havia Prefect de outra cor?) do Admir Torquato, do professor Amauri Fratini, do sonoplasta Gilson de Campos e do locutor Ari Bonturi Pontes. Foi terrível: numa chuvosa tarde de verão, da janela da Rádio Cultura, ali na Benjamin Constant, vimos o Ari chegando. Atrás, uma caminhonete deslizou e “tocou” a traseira do Prefect – as quatro portas se abriram e caíram na rua, em frente à Loja Esportes Carioca.

Desfilavam, também, o Austin do tio do Renato Otranto; o Ford 41, verde, do seo Antônio da Silva Ramos, distintíssimo cidadão português, dono da Casa Alfa, de máquinas de costura; a perua DKW do narrador de futebol Mário Melillo; o Simca Chambord do legendário Zito Palhares; o Jaguar do Luís Raphael Henriques; o Ford do motorista de táxi Zé 51, ali do Largo do Carmo, e o Aero Willys preto do magnífico reitor da Pucc, Benedito José Barreto Fonseca.

E o Nash – lembra do Nash? – azul metálico, de um funcionário da Pucc. Era o último Nash de Campinas. Numa manhã de domingo, ele e o filho, menino de cinco anos, passeavam pelo Jardim Chapadão. O pai distraiu-se na conversa com o Roberto Godoy, o garoto entrou no Nash, soltou o freio de mão e o carro começou a andar. Sabe o que o pai fez? Desmaiou! Desmaiou no ombro do Beto! O ‘gordo’ deixou o pai se esborrachar no chão e salvou o último Nash de Campinas – e o menino também, claro.

Pregado no poste: “Perua anda de perua?”

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