Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

TV Câmara

Já imaginou se essa tal TV Câmara inventa de fazer novelas? Não será difícil, afinal é tudo ficção. Portanto, não há elenco melhor. Eles fingem que é tudo de verdade e a população finge que acredita — só não dá para fingir quando arrancarem impostos do povo para pagar a conta de mais essa exibição de vaidades.
Parlamentares já tingem os cabelos, para esconder a notória decrepitude, embora não lhes seja possível maquiar a mente. Parece até que a novela de estréia seria “Brega & Chique”, “Plumas & paetês”, “As bruxas”, “O cara suja”, “O espantalho” ou “O cafona”. Como não são originais nem verdadeiros no que protagonizam, só serão exibidos remakes de sucessos, para mascarar o fracasso do desempenho.
A escolha dos atores fica por sua conta. Afinal, cada telespectador tem sua preferência e sempre há os que querem este ou aquele em certos papéis. Mas aconteceram novelas inesquecíveis, que servem para bons remakes. A primeira, sem dúvida, seria “Ainda resta uma esperança”, para o telespectador acreditar que nem tudo está perdido. “Alma cigana” retrataria a vida dos que se esquecem de que seu lugar de “trabalho” é Brasília e passeiam pelo mundo, embora os ciganos façam isso por conta própria. Remakes infalíveis serão “Ambição”, “Os apóstolos de Judas”, “O astro”, “Eu prometo” e “A grande mentira”.
Alguns banqueiros falidos e empreiteiros manjados teriam participação especial na reedição de “Baila comigo”, “Bandidos da falange”, “Cambalacho”, “Corrida do ouro” e “Cadeia de cristal”. A famosa “O céu é de todos” terá outro nome: “O céu é só nosso”. Também estão na programação “Dinheiro vivo”, “Os fantoches” e “Os diabólicos”.
Nas galerias da Câmara, o povo pede para participar de “Em busca da felicidade” e “E nós, aonde vamos?”, mas não foi aceito nem como figurante. O povo só entra se for em “Meu adorável mendigo”, “Onde nasce a ilusão” ou em “Os miseráveis”. O povo ainda sugeriu “Quero viver” e “Salário mínimo”, mas o roteiro foi vetado.
Ninguém quer fazer “O Ébrio” nem “O homem que deve morrer”. Nenhuma deputada quer entrar no elenco de “A gordinha” ou de “A rainha da sucata”, mas há briguinhas de bastidor pelo papel principal de “Eu compro esta mulher”, “Os gigantes”, “A idade do lobo”, “O semideus” e “Guerra dos sexos”. Todos querem fazer “Os inocentes”, mas o autor não concorda com o elenco. “A justiça de Deus” também não tem interessados. “A máfia no Brasil”, “Memórias de um gigolô”, “O tempo não apaga”, “Vida roubada”, “Mania de querer”, “Anjo mau” e “Ninguém crê em mim” teriam ibope garantido, mas…
A bancada ruralista e a esquerda oportunista lutam para ver quem vai dirigir “Meu pedacinho de chão”. O diretor da TV sugeriu “Te contei?”, “O pecado de cada um”, “A ré misteriosa”, “Presídio de mulheres” ou “Um gosto amargo de festa”, mas ninguém quis estrelar. Em compensação, os que defendem a legalização das drogas querem fazer “A viagem”.
Está decidido que não será exibido o remake de “Por amor”, porque não existe ninguém no elenco em condições de interpretar esse sentimento. Nem fingindo.
Pregado no poste: Se tiver político no elenco, “A padroeira” vira “A ladroeira”

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