Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Tutti buona gente

Prepare o espírito. A partir de quarta-feira que vem, Campinas se tornará sede de uma confraria extraordinária. Uma pequena cidade italiana, quase um presépio medieval incrustado no centro-oeste da península, entre Pisa (da torre) e Gênova (de Colombo) lançará suas bases artísticas, culturais e comunitárias nesta terra de Carlos Gomes. Muito a ver conosco.

Os luqueses estão chegando. Gente que traz Giacomo Puccini na alma e Alfredo Volpi no coração. O mesmo Puccini, aluno de Ponchielli, vizinho e parceiro de Carlos Gomes na Itália; o mesmo Volpi, das bandeirolas, que marcam para sempre a paisagem enfeitada do bairro paulistano do Cambuci, recanto que ele escolheu para viver, depois que deixou sua Luca, na região da Toscana.

Luca é uma comunidade famosa pelo espírito brincalhão e alegre de seu povo, uma espécie de cariocas italianos. Duas cidades numa só. A Luca de Dentro, tombada pelo patrimônio histórico, conserva o cenário de quase mil anos de arquitetura, e uma população que desde o século 16 não passa de 15 mil habitantes. E a Luca de Fora, 70 mil pessoas, moderna como a Itália de hoje, berço dos ancestrais de milhares e milhares de brasileiros (é só pegar uma lista telefônica: se o sobrenome for sonoro, é italiano). Não fosse Giacomo Antônio Domenico Michele Secondo Maria Puccini o compositor de Madame Buterfly, Tosca, Turandot e de La Bohème…

Quem chega, também, é a gente da Luca sensual e sutil, simbolizada no monumento a Ilaria del Carretto, estátua gigantesca esculpida no mármore da vizinha Carrara, venerada na Igreja de São Martinho. Ilaria, jovem belíssima, morreu de parto aos 20 anos, em 1405. Diz a lenda que o homem que conseguir beijar os lábios de Ilaria terá uma vida sentimental feliz para todo o sempre (deve ser a boca mais beijada da Europa: tanto que o monumento está cercado, desafiando os beijoqueiros).

Essa Luca de músicos, escultores, pintores, escritores e de gente feliz escolheu Campinas para lançar quarta feira, na Hípica, a “Associazione Lucchesi-Toscani nel Mondo” (ouviu como é sonoro?). Diz o campineiro João Francisco Ginefra Toni (outro brasiliano), que o objetivo da confraria, credenciada pelo governo italiano e apoiada pelo consulado de São Paulo, onde está a matriz brasileira, é agregar a comunidade de luqueses, toscanos e seus descendentes no Brasil.

Almejam preservar as características culturais de uma cidade pequena que, há mais de um século, mandou muitos de seus filhos para ajudar na construção deste País. Estão orgulhosos. Afinal, em cada grande cidade brasileira existe uma semente luquesa lançada em suas origens. Talvez haja mais descendentes de luqueses no Brasil do que luqueses de nascimento em Luca. (Zé Vasconcelos costuma dizer que metade da população de São Paulo é italiana e a outra metade descende de italianos…).

Nem precisa ser luquese de nascença, aliás esse é um estado de espírito, para entrar na confraria. Basta ter origens, ainda que remotas, na Península, para se enturmar. Portanto, acredito, metade dos campineiros já está credenciada. A Fiatallis e a Turim Máquinas e Equipamentos estão ajudando. Se você quiser saber mais sobre Luca, é só chegar até lá pela Internet, viajando pelo Yahoo!. Eu já estive lá (em sonho) e, ontem, pela rede mundial, como o “turista número 40.323”. É fascinante. Dá até para ouvir um raro registro da voz de Puccini, gravada em 1907, no estúdio da Columbia, em Nova York. Emociona.

E se você quiser testemunhar o nascimento da “Luca Campineira”, ligue para o Ginefra, no telefone nº 234.63.46.

Pregado no poste: “Pra quem não for, pernacchia!”

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