Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

O graphophone

Domingo passado, aqui no “Correio Popular Revista”, a Michele Médola fez uma reportagem com gente que guarda objetos do tempo em que os geriatras de hoje ainda eram pediatras. O gramofone da Maria de Fátima Prado ganhou a parada, mas lembrei-me de que uma certa “Dona Tuca”, moradora na Cidade Universitária, por coincidência minha irmã, guarda um, chamado “graphophone”, assim mesmo, com dois “ph”, fabricado em 1886. Movido a corda e patente de Thomas Alba Edson. Em vez de disco, toca cilindros o dito cujo – cilindros de cera, guardados em caixas cilíndricas (claro) forradas com feltro. Encaixada num tubo de metal, a agulha de cristal desliza sobre ele quando a corda dispara. Outro tubo, de boca larga, acoplado ao encaixe da agulha, espalha o som. Vem dentro de uma caixa de madeira igual àquelas de antanho, para guardar utensílios de costura. Parece que o museu do Bosque tem um. Ainda existe museu no Bosque?

Em vez desse graphophone, preferi guardar meu time de botão – jogadores de celulóide (tampa de relógio, para os íntimos), uma biografia de Napoleão Bonaparte, maior do que a Bíblia (os dois testamentos), do século 19. Uma coleção do Delta Larousse, também de mais de cem anos, e uma bengala de junco, Bengala nada, é uma espada disfarçada, só que sumiu. O time de botão é imbatível até hoje: Dimas; Ferrari, Ditinho e Diogo; Walter e Eraldo. Dorival, Ilton, Cabrita, Benê e Oswaldo. Nem seu bisneto verá um Guarani como esse.

Mas o que me chamou a atenção foi aquele rádio Lancaster, da Mariza Teixeira Alves. Lindão, aos 70 anos. (Ela, lindona, aos 51). Duas faixas de onda, daqueles de ouvir o Lombardi Neto na “Hora do trabalhador”, de manhã na Educadora; o Zé Sidney, no “Disque sua música”, pela Brasil, à tarde; e o Sérgio Batista, no “Rádio-baile”, da Cultura, à noite. De vez em quando, “Nada além de dois minutos” ou “Gente que Brilha”, com Paulo Roberto, na Nacional do Rio.

Mariza, em casa havia um Telefunken que regulava com o seu  Lancaster. Uma vez, peguei Zézé de 32 ouvindo César Ladeira, Chico Viola, Lúcia Helena, Heron Domingues, Manoel Barcelos. Pensei comigo: “Esse rádio é tão velho, que pega estação que já fechou!”. O seu pega?

Pregado no poste: “Saudosista é a vovozinha.”

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