Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Tão chato…

Já vi gente adiar compromisso para sábado porque não sabe escrever sexta (e não foi o Vicente Matheus!). Vi juiz de futebol anunciar minuto de silêncio no começo do segundo tempo, porque se esqueceu de fazê-lo antes do início da porfia. Deixei de ir a uma prova no colégio, porque jurava por todos os juros que seria no dia seguinte. Fui à cidade de Panorama, na divisa com o Mato Grosso do Sul, entrevistar um homem que morava perto de casa aqui em Campinas.

Fui gravar meu nome numa caneta Parker, num camelô ali do Mercadão, mas quando cheguei… Cadê a caneta? Só quando vi a namorada saindo daquele supermercado, aí na Barão de Jaguara, carregando ingredientes para a feijoada, é que me lembrei do convite para almoçar dali a pouco na casa dela — e eu já havia almoçado…

À noite, voltava com o fotógrafo Toninho Erbolato de Águas de São Pedro para Campinas e percebi que todas as anotações para a reportagem ficaram na mesa do prefeito. E a redação, em São Paulo, esperando a notícia sobre a reunião da comunidade israelita, às escondidas na estância, para evitar um atentado. Tempos da Guerra do Yon Kypur. Daria para escrever tudo de cabeça, mas como escrever corretamente os nomes dos judeus entrevistados? O prefeito salvou a pátria e se a colônia quiser homenageá-lo… Não me lembro mais do nome dele…

Há casos piores, como a miss que partiu de Cumbica para Palm Beach e deixou o cetro no aeroporto. A TV mostrou alguém que às vésperas do Natal deixou a muleta na Rodoviária do Tietê. Um deixou a dentadura no banheiro da nossa Estação da Paulista. Em Sertãozinho, a praça central foi cercada com aquelas fitas preta e amarela pela polícia, até que chegasse o esquadrão anti-bombas para desarmar aquela pasta 007 abandonada sob uma árvore – mas o dono chegou esbaforido e vaiado pelo povo ansioso, que de longe assistia a tudo.

Mandei um repórter percorrer a Cordilheira dos Andes numa jamanta rumo ao Chile. Depois de cruzar toda a Argentina e chegar do outro lado, o motorista o deixou num ponto de ônibus a duas horas de Santiago e seguiu para o Sul. Levou todas as anotações, filmes e a máquina esquecidos pelo solerte no banco do carona. Como ele chorava ao me contar a mancada, tarde da noite, na recepção do hotel! No dia seguinte, cedinho, uma encomenda do Expresso Coral o esperava na mesma recepção com tudinho lá dentro.

Nada que não tivesse solução. Mas domingo passado, tenha dó! Fomos a um enterro marcado para uma da tarde no cemitério de uma cidade aí perto. Chegamos às 11h10 e o coveiro, chupando uma laranja, esclareceu:

— Enterrei o corpo da senhora fulana às 10h30

— Mas como, se estava marcado para uma hora?

— Convenci a família antecipar para as dez e meia, porque das onze a uma é hora do almoço dos coveiros…

Pregado no poste: “O velório estava tão chato que o defunto se mandou”

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