Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Só no Brasil…

Hoje é dia de reverenciar os símbolos nacionais. Mas, parece, o hino, a bandeira, o brasão de armas, e o selo (existe, sabia?) andam muito esquecidos. Já ouvi dizer que estão esquecidos, porque a sensação para nós, brasileiros, é a de que os nossos símbolos foram tomados pelas Forças Armadas — e eles aparecem quase sempre associados a elas.

Há mais símbolos, criados pelo povo, depois oficializados, como o sabiá e o ipê. E os que povo adota: o Maracanã e o futebol, o bicho-preguiça, a cachaça, a cerveja, a mulata, o Carnaval, as praias, o sol, o café, o samba, o jogo-de-bicho, a feijoada, o churrasco… Chega, porque o assunto é sério – daqui a pouco, vão dizer que Brasília, com toda aquela imundície, é símbolo nacional.

Ontem, vasculhando alfarrábios pátrios, percebi outro grande vexame que marca o Brasil. Aqui, as mudanças demoram, mas um dia, a quinta ou sexta geração da gente consegue realizar os sonhos dos “ra-ta-ta-ta-ra-vôs”. Não vê o governo? Tem hora que parece o do Sarney, às vezes dos Fernandos, até do Itamar e, Deus me livre, de um ou outro da ditadura. Mas um dia, será um governo que cumpre o que prometeu no palanque e na tela. É só extinguir os políticos, que tudo melhora.

Observando os símbolos nacionais, o bicho pegou. Lembrei-me de que, aos trancos e barrancos, também enfrentamos a aids melhor do que muito Primeiro Mundo, graças às campanhas de esclarecimento e às iniciativas oficiais. Erradicamos a paralisia infantil, até a dengue, logo, dará para encarar. O lixo reciclado vai pegar, quer apostar? Consumidores conseguem se defender, aos poucos, de maus empresários (Já os eleitores, diante de maus políticos… Só o voto não basta.).

O que está difícil é fazer o brasileiro parar de fumar. Campanhas antitabagistas existem, fortes, ano após ano, mas a indústria do cigarro também cresce ano a ano.

Imagine que o governo gasta fortunas do povo, para que o povo largue o cigarro, mas esse mesmo governo exibe, desde a proclamação da Independência, o fumo em seu brasão de armas, ao lado do café. De dom Pedro I ao Lula. Quando se deixa a educação por conta de políticos, sobram hipocrisia e ignorância.

Em Brasília há deputados – tinha de ser – que pregam a liberação da maconha, alegando que ela é menos nociva que o cigarro, que isso, que aquilo (aquela conversa do marketing da droga). Se passar, são capazes de propor a troca do fumo pela maconha no brasão da República. Aí, quero ver as Forças Armadas e estudantes desfilando nosso brasão ornado pela erva maldita numa parada como a de hoje.

Pregado no poste: “Fumantes, marchem!”

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