Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Sem ele…

Ninguém dá a menor bola para ele, mas sua existência é fundamental e começou a partir de mágica coincidência. No Ocidente, Arquimedes, por volta do ano de 212 antes de Cristo, concluiu que, se dessem a ele um lugar para se firmar e um ponto de apoio para sua alavanca, ele moveria a Terra. No Oriente, o rei de Qin, vencedor da guerra que encerrou a dinastia Zhou, em 221 a.C., já conquistara quase toda a China e, para protegê-la, iniciou a construção da famosa Muralha. Para acelerar a obra, sem saber, mas usando o princípio de Arquimedes, seus operários inventaram o carrinho de mão. Até hoje, um dos mais antigos instrumentos usados pelo homem – insubstituível. “Reduz o esforço e aumenta a velocidade do trabalho”, na definição do filósofo Francisco Augusto Marques Rodrigues, engenheiro-civil e criador de vacas nas horas vagas. Ou vice-versa.

Depois de 2.220 anos, o homem foi para a Lua, mas não deixou seu carrinho de mão. Afora ser a carruagem dos reis da construção civil, ele transporta crianças, é medida de argamassa (nele cabem 18 latas ou 72 litros), tema de mau-gosto do desconjunto Terra Samba, leva esterco para a horta, bêbedos para casa na periferia… Serve para tudo.

Em Amaraji (acho que é isso), Zona da Mata de Pernambuco, comemora-se o fim da colheita do chuchu, maior riqueza da cidade, com uma corrida de carrinho de mão. Afinal, é ele que, gloriosamente, vai lotado do dito para a carroceria dos caminhões e participa de todo o cultivo, desde o preparo da terra. A competição é levada a sério. Tem até boxE para pit-stop. São 14 duplas – um empurra e o outro vai sentado. A cada 200 metros, trocam de posição (o que empurrava senta, entendeu?).

O circuito, em pista de terra, é cheio de sobe-e-desce, buracos, curvas. Contorna um chuchuzal ao longo de mil metros. Este ano, o vencedor conseguiu completar a prova em quatro minutos e 51 segundos. Prêmio: um carrinho de mão. Eu ficaria “pê” da vida.

Um carrinho de mão novinho, de 200 litros, custa R$ 250,00.

Um dia, vamos contar como Campinas entrou nessa história milenar, dando um destino consumista a essa grande invenção!

Pregado no poste: “Não confunda Zona da Mata com… zona da marta”

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