Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

No lugar certo

Seo dr. Hélio, mas esse negócio de camelô vender pedaço de rua da cidade para garantir renda aos piratas e ao crime organizado é de cabo de esquadra. E a culpa é do senhor. Tenha dó, seo doutor! Sei que camelô elege um saco sem fundo de gente interesseira, mas olhe bem na cara deles, seo dr. Hélio: dão nota fiscal? Dão garantia? Pagam conta de água? De luz? IPTU? ISS? Aluguel? Declaram Imposto de Renda? Assinam carteira de trabalho de quem trabalha para eles?

Acontecem todas essa injustiças na sua frente e o senhor não faz nada? Nessa marcha, logo se verão no direito de comprar por trinta dinheiros um pedaço do jardim de uma casa – da sua, eu sei que não. Ou de se estabelecer em volta da estátua do Carlos Gomes, para se beneficiar também daquele belo palco que o senhor iluminou. São ousados, mas serão eternamente gratos.

Não precisa matar nenhum deles, porém faça-os cumprir a lei. Se um comerciante atrasa o pagamento do ISS ou do IPTU, o senhor não vai em cima deles? Que preconceito é esse, de sua parte, contra quem trabalha honestamente? Preconceito é crime. Mas apesar de toda a fama (injusta) de ‘chuncheiros’, traficantes, pistoleiros ou ladrões, seus conterrâneos de Mato Grosso do Sul fazem dele um estado em que menos se discrimina o próximo. É verdade e dou fé. O senhor compra de camelô?

Já sei: entrando no terreno das leis trabalhistas, todos vão dizer que os camelôs exercem a segunda mais antiga das profissões. Mas as primas não exercem a mais antiga no meio da rua nem compram espaço para trabalhar em praça pública. Já pensou se, em protesto contra a sua omissão, elas passam a trabalhar no Largo da Catedral? Ou na frente do prédio do Jóquei Clube? No saguão do Jequitibás? E se elas inventarem de acompanhar os vendilhões em sua nova ameaça de ocupar as cercanias da nova rodoviária? As empresas de ônibus cobrarão mais pela passagem, por causa do espetáculo extra na chegada a Campinas?

Aliás, o senhor sabe por quem os viajantes eram recebidos assim que chegavam a Campinas, desembarcando do Cometa ou do Expresso Brasileiro, ali na Campos Salles? Para o senhor eu conto, mas pessoalmente. A Constituição, a mesma que proíbe discriminação, me proíbe de contar em público.

A explicação do seu diretor-técnico da tal Setec é a prova que a Setec é dispensável. Ouçamo-lo: “Não tínhamos conhecimento disso. É a mesma coisa que vender terrenos no céu.” E a da presidente da Associação dos Trabalhadores da Economia Informal, Maria de Fátima de Souza (“Todo mundo que chega aqui pedindo eu mando para a região do Mercadão”) está ali:

Pregado no poste: “Chega de intermediários, Maria de Fátima para prefeita”

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