Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Santa inocência

O governo do Lulla levou dois anos e meio para tomar outra decisão inútil: pais podem levar o filho – e a filha — de qualquer idade ao cinema, para ver filmes proibidos até 16 anos. Levante a mão quem nunca assistiu a um filme impróprio para menores. Está vendo? Todo mundo assistiu. Agora, levante a mão quem nunca enganou o porteiro nem o comissário de menores! (Puts! Cinema tinha comissário de menores.). Todo mundo, de novo…

Só mais uma: quem nunca falsificou a “cardineta” para ver filme proibido? Olhe aí, quanta gente! Era fácil: só pingar uma gotinha de Cândida, aquele alvejante de roupas, que o número escrito com esferográfica ou caneta-tineiro sumia. (Ai se dona Gladys visse! Doutor Telêmaco ia até a casa da gente, mostrar a fraude aos pais. Vixe! Que vergonha!) Hoje, esse tipo de “falsário” é respeitado na escola. Tanto quanto filho de traficante.

Certa vez, uma amiga, casada com um enorme jornalista de Campinas, foi barrada na porta do Ouro Verde. Eles iam assistir – veja você! – “Satânico Doutor No”, estréia do 007 na telona. Esse filme era proibido para menores de 18 anos, por causa do estonteante biquíni da Úrsula Andress. Hoje, aquela incrível saída da água passa até em jardim da infância. Nervosa, quase chorando, minha amiga apelava ao porteiro: “Tenho vinte anos! Aquele ali na frente é meu marido, moço!” Você largou ela pra trás de propósito, Betão? Sacanagem!

Hoje, de cada dez filmes que passam na ‘Sessão da Tarde’, quatro ou cinco seriam proibidos há uns quarent’anos. E em canais que (ainda) passam filmes brasileiros já de manhã, dá para ver “Os cafajestes”, com a Norma Bengel nua do calcanhar para cima; “Cidade Ameaçada”, com a Eva Vilma sem fazer nada na cama, com o Reginaldo Farias; “Noite vazia”, com Norma Bengel e Odete Lara, idem; “São Paulo S/A”, de Walmor Chagas e a Eva numa cena tórrida, mas vestidos dos pés ao pescoço… Ou o inesquecível “A morte comanda cangaço”. Na hora em que um cangaceiro abre uma porta no bordel, dá de cara com a Aurora Duarte ou a Líris Castellani, não me lembro, sentada numa rede, sem sutiã, a cena é cortada e a censura, vaiada. Nem quem tinha mais de 18 podia ver aquilo.

Logo, vai começar o horário político obrigatório na TV, mas esse, nossas autoridades acham que menores e maiores de idade podem ver!

Pregado no poste: “Nem no canal do esgoto!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *