Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Querida prefeita,

Bom dia – se é que algum campineiro tem o cinismo de desejar bom dia a outro diante da cidade em que vivem. Vamos bater um papo só nos dois, sem que ninguém nos ouça, ou, nos leia? Fale a verdade, dona Izalene, a senhora está perdidinha. Outro dia fui até aí para visitar um amigo, mas desisti. Campinas está suja, ‘fidida’, esburacada, mal varrida, mal administrada e mal amada. Desculpe, prefeita, mas minha cidade está uma porcaria. E nós que nos orgulhávamos tanto dela!
Ela não está nessa decadência só por causa do vandalismo que depreda, mas é por causa do vandalismo de quem a abandona. Não é o vandalismo que destrói, mas vê-se logo que é a falta de quem saiba construir, por absoluta incompetência e desinteresse. Dá dó.
Uma faxineira que mora no DIC, não sei qual, trabalhava numa firma de limpeza e abandonou o emprego. Precisava tomar o primeiro ônibus, lá longe, mas esse ônibus nunca vinha. E não há fiscalização. “Você acha que eu sou doida de ficar no ponto, naquele escuro, esperando o outro? Não sei o que vai acontecer comigo!” Está aí, querida prefeita: existe uma mãe de família em Campinas, desempregada pela sua administração, que não cumpre a obrigação de pelo menos fiscalizar uma linha de ônibus. Dá nojo, não é prefeita?
Atrás da Maternidade – centro da cidade, prezada alcaidessa! – a coleta de lixo é feita só de segunda a quinta, me conta alguém que se esconde ali.
Vi que a senhora deixou o professor Rogério Cerqueira Leite sair do seu Secretariado. É mais ou menos como se o técnico do Santos dispensasse o Pelé, para a alegria dos adversários. Qualquer governante daria a vida para ter o Rogério em seu gabinete. Nada, nada, para contar com orgulho para a inveja de todo o mundo: “O professor Rogério Cerqueira Leite é meu secretário!”. Se a senhora mandasse embora todo o seu Secretariado e absolutamente todos os seus assessores, para ficar só com o Rogério, perceberia que basta ele no Palácio dos Jequitibás. E a cidade sairia ganhando. Nossa! De goleada. Prefeita, a senhora não tem saída: ou contrata gente boa ou se vai com os ruins de serviço. Deus me livre querida dona Izalene, quanto mais o tempo passa, até o Jacó Bittar fica com fama de bom prefeito. E seo Pagano, um gênio.
Por muito menos, seus correligionários faziam passeatas de protesto, lembra?
Pregado no poste: “O último a sair não apagará a luz, com medo de ser assaltado.”

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