Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Quer saber?

 

Certamente, estes três livros jamais aparecerão nas listas dos mais vendidos da revista Veja nem do Estadão. Talvez não sejam expostos nos lugares mais visíveis das livrarias. Existe mais gente interessada em saber como uma socialite pedia drogas nos morros do Rio de Janeiro; como Nelson Motta namorou a Elis Regina; devorar manuais de cultura inútil ou simplesmente não ler nada. Num país que tem menos livrarias do que Buenos Aires e cuja Biblioteca Nacional manteve em seu acervo a obra “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, na seção de Botânica, nada a estranhar. E o presidente é um sociólogo.
No Estado menos pobre deste país, há crianças que chegam à quarta série do Primeiro Grau sem saber ler o próprio nome, enquanto o governador desse Estado manda balas de borracha nos professores, que ganham menos do que deputados. É o “triunfo das nulidades”, profetizado por Ruy Barbosa.
Em meio a tanta indigência cultural, há uma fonte de riqueza, verdadeira jazida, em Campinas. Sim senhora; sim senhor. Essa jazida se chama Mercado de Letras e de sua lavra acabam de sair três preciosidades, que deveriam estar em joalherias, além das livrarias. Não sei quanto custam, mas valem mais do que qualquer colar de pérolas legítimas: em vez de enfeitar pescoços, enriquecem a alma.
A primeira é da professora Lúcia Granja, da Unicamp, que depois de garimpar jornais cariocas de meados do século passado, descobriu os primeiros escritos de Machado de Assis e lapidou para nós uma jóia chamada “Machado de Assis, escritor em formação”. Quem lê aprende como nasceu a produção literária do nosso escriba maior. Impossível ler de uma vez só.
Depois, “Ymã, ano mil e quinhentos – relatos e memórias indígenas sobre a conquista”. Paulo Porto mostra a aflição e a perplexidade da alma dos índios, quando começaram a viver e depois sobreviver entre os brancos.
A terceira pepita é um presente de Cândido Domingos Grangeiro: “As artes de um negócio: a febre photográfica — São Paulo: 1862-1886.”. Ensina e seduz até quem só gosta de abrir um livro se ele tiver figuras…
Pregado no poste: “Desligue a TV e abra um livro. Sua inteligência merece.”

 

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