Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Quando os bichos…

Outro dia, entrou uma cigarra aqui em casa. Saí correndo. Coitada, de susto, caiu estatelada, de costas, no chão da cozinha. Por pouco, eu não caí estatelado lá embaixo. Prefiro os excetos aos insetos. Nós, da cidade, vivemos cada vez mais distantes dos bichos. Bichos que até ensinaram gerações anteriores a viver. Muito aprendizado foi passado à Humanidade com histórias sobre eles. Quem leu Monteiro Lobato e Ésopo sonhou, ao menos uma vez, viver no tempo em que os bichos falavam. Mas hoje, bicho e é só calouro de faculdade, jogo, vício, amigo… É isso aí, bicho!

Sabe há quanto tempo eu não via uma cigarra? Sei lá! E lebre? Pergunte ao seu filho se ele sabe a diferença entre mula e égua, burro e cavalo, tartaruga e jaboti, sapo e rã, corvo e urubu, rato e camundongo, raposa e uvas, pato e pata, cordeiro e carneiro… No entanto, quase todos esses animais ensinaram a gerações lições de moral, bons costumes, honestidade, inteligência, sabedoria, esperteza, generosidade… Mas agora, quando alguém quer ofender alguém, sem dizer palavrão explícito, a primeira expressão é o nome de um bicho, seja cabra, vaca, veado, cachorro, macaco, porco, cadela ou borboleta. Ainda esta semana, um grupo de adolescentes da classe média alta de uma escola religiosa aqui de Ribeirão recebeu do juiz de menores a pena de oito horas semanais de serviços à comunidade, durante seis meses, por colocar numa colega o apelido de ‘bode’. Garanto que se a chamassem de ‘gata’, ela até gostaria.

É que os animais estão em extinção e o homem, sem tempo para observar a vida de cada um na natureza, e dela extrair lições para as nossas vidas – a natureza está em extinção. Felizmente, ela sobrevive exuberante nos livros, mas nem assim o homem aprende a recuperá-la. Ainda na sexta-feira, liguei para um amigo, Leontino Balbo Júnior, que sabe tudo e mais um pouco dos micro aos macroorganismos, para contar que um besouro gigante, que ataca em bandos, matou 32 cássias-de-sião no Rio de Janeiro. Ele já reagiu para proteger a árvore, o homem até os besouros:

— Não pode envenenar. A solução está sempre na natureza. Existe um passarinho, até aqui na usina, que tem pés grandes e unhas compridas para se agarrar bem ao tronco. Ele ouve o barulho das larvas; com os pés puxa as larvas e come. Pronto! Ele dá conta de controlar a infestação e ainda se alimenta.

Pregado no poste: “Quem burro nasce, togado ou não, burro morre”

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