Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Quando o homem ensina…

A humanidade sempre tem a ganhar quando usa certos exemplos tirados do comportamento dos animais. A natureza é uma grande escola para os homens. Mas quando os animais imitam os homens, claro, o resultado não é bom.

Esta semana viveu grandes histórias protagonizadas por animais. Vimos cães policiais ajudando no resgate de vítimas das enchentes, em São Paulo. (Cá entre nós, os cachorros da cidade grande, treinados ou não, vira-latas ou de raças puras, devem se espantar com a burrice dos governantes, incapazes de entender por que as enchentes acontecem.). No estado do Rio, Catita, uma cachorrinha sem raça definida, mas com coragem e dignidade raras no homem de hoje, salvou a vida de um menino atacado por um Pitbull — uma besta fera criada, claro, pelo homem. Ano passado, uma gorila guardou a vida de outra criança que caíra no espaço destinado aos ancestrais do homem, nos Estados Unidos.

Uma técnica milenar de conservação do solo, a curva de nível, foi ensinada no Brasil por uma vaca. Observando como a mulher do touro faz para descer um morro, o engenheiro Henrique Dumont, o “Avô da Aviação”, descobriu que o rastro deixado por esta grande dama leiteira desenha curvas de nível perfeitas ao passear em terrenos inclinados. Com essas curvas, pode chover à vontade que não desbarranca.

Os animais sempre serviram ao homem com generosidade, mas os homens sempre se servem deles com brutalidade para subjugá-los. Não haveria soro contra picada de cobra, não fossem os cavalos. Além do homem, o tatu é o único ser vivo que contrai a lepra. E esse bichinho também é o único caminho para a ciência descobrir um remédio que acabe com esse flagelo. Sem falar nos coelhos e ratos de laboratório e nos ovos da galinha, para se obter medicamentos confiáveis que curam o homem. Eles são nossos grandes companheiros e guardiães: em terreiro de galinha não há escorpiões, em campos de corujas as cobras se escondem, onde há gato não há rato, onde há sapo existem menos mosquitos. Sem os animais, não haveria meio de vida para os homens na Terra. Ao mesmo tempo, sem os homens a perseguí-los, os animais viveriam aqui felizes para sempre. Portanto, para os animais a presença do homem é dispensável, mas para o homem, a presença deles é vital. Os animais vivem sem o homem, mas o homem não sobreviveria sem eles. Quem é “racional” nessa história?

Sempre que o homem imitou os animais deu certo. Mas quando o animal tenta imitar o homem, veja no que dá. Aconteceu na cidade de Fernandópolis e a notícia é do meu amigo e jornalista Antônio Higa: “A Polícia Florestal conseguiu desmontar uma quadrilha que vinha atacando residências de Fernandópolis desde 1991. O líder do grupo, sua companheira e mais quatro ladrões, porém, continuam soltos. O bando, com 55 integrantes roubava alimentos. Eles conheciam os horários de saída das pessoas, verificavam se havia um vitrô aberto, entravam e levavam frutas, doces e bolachas. Organizados, mantinham dois ou três vigias no local do ataque que até assoviavam para denunciar a presença de humanos. Eles também quebravam copos e pratos. No início de janeiro, os membros desta quadrilha começaram a ser capturados. São macacos.”.

Pregado no poste: “O colete era à prova de bala, mas a bala era à prova de colete…”.

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