Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Projeto-de-lei

Estou sonhando ou é verdade?

Tramita na Câmara Municipal de Campinas projeto-de-lei de um vereador honrado, honesto e muito cioso com o dinheiro público – aquele que as autoridades arrancam dos cidadãos para realizar obras em benefício dos próprios cidadãos. Sei que ainda existe vereador honrado, honesto e cioso com a coisa pública. Estou orgulhoso desse vereador e de ser campineiro. Afinal, graças a ele, esta será primeira cidade brasileira a tomar uma atitude tão digna. Está certo que se trata de uma lei que deveria existir desde que inventaram o Poder Público. Antes tarde do que nunca e Campinas é pioneira e serve de exemplo. Mas é verdade ou estou apenas sonhando neste fim de verão?

Diz o projeto-de-lei do nobre vereador (eles se tratam por “nobres”, mas foram eleitos para representar o povo…) que no último dia de cada mês, o Diário Oficial do Município será obrigado a publicar a relação de todos os servidores municipais, do Executivo, do Legislativo e das empresas públicas, concursados ou não, estáveis ou não, quem apareceu para trabalhar ou não, apadrinhados ou não. Todos, do prefeito e do presidente da Câmara aos garis. Estou sonhando?

Ao lado de cada nome de servidor, será publicado o salário de cada um, incluindo benefícios, abonos, cascatas, tudo. Todo mês, o Poder Executivo e o Poder Legislativo serão obrigados a dizer à população quanto ela pagou para cada indivíduo que recebeu dinheiro do Poder Público – para ser mais claro, do povo. Será verdade?

Mais: na mesma edição desse Diário Oficial, virá relacionada a conta de cada telefone pertencente à Prefeitura, à Câmara e às empresas, com o nome do funcionário, secretário, vereador, chefes, chefetes ou “aspones” responsáveis por ele. (“Aspone” quer dizer “assessor de porcaria nenhuma”.). Assim, o povo terá o direito de saber quanto pagou pelas ligações de cada telefone que o próprio povo sustenta. Será sonho?

Outra publicação obrigatória: quantos quilômetros cada veículo da Prefeitura, da Câmara e das empresas percorreu naquele mês e quanto gastou de combustível, com o nome do respectivo posto que o abasteceu. Mas isso é verdade?

Por último: todo servidor público, de todos os escalões, que viajar a serviço terá seu nome, itinerário e motivo da viagem publicados no Diário Oficial, com a respectiva nota fiscal de despesas de hospedagem e refeição. Assim, o povo poderá julgar se está pagando por trabalho em seu benefício ou por passeio em favor de seu servidor. Acorda!

Vamos torcer para que esse projeto-de-lei seja aprovado. Seria sonhar mais alto que este sonho sonhado, esperar que a aprovação aconteça por unanimidade? Será que alguém é contra? Se é contra, está escondendo o quê? Tem medo de quê? Sei que não será fácil ver esse sonho realizado. Estou apenas sonhando ou é verdade?

Dúvida terrível.

Estou sonhando que ainda existam vereadores honrados, honestos e ciosos com a coisa pública? Ou é verdade que eles existem? Então, o tal projeto está tramitando, mesmo? Ou é só um sonho? Quem for contra fale agora ou cale-se para sempre.

Pregado no poste: “O patrão do servidor público é o povo, portanto tem o direito de saber quanto custa seu servidor.”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *