Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Precisa-se de burros

Trecho da dramática carta do leitor Aurélio Pereira da Silva, no Correio de sábado passado: “Um senhor, quando ia subir no ônibus que fazia a linha 554, carro nº 5015, pedia para o motorista abrir a porta traseira e este só o fez quando deu a partida, quase prendendo o passageiro (que ainda serviu de gozação a alguns funcionários que estavam sentados no banco).”.

Infelizmente, o sr. Aurélio não diz o nome da empresa que emprega aqueles marginais do serviço público nem seus cúmplices, que riram da desgraça do passageiro desrespeitado por eles. O sr. Aurélio não diz, também, em que botequim das redondezas do terminal “Vicente Cury”, eventualmente, poderiam estar praticando levantamento de copo, arremesso de toco de cigarro (de maconha?) ou jogando palitinho os falsos fiscais encarregados de zelar pelo bom funcionamento do serviço de ônibus em Campinas que, há muito tempo, deixou de ser bom.

Basta ler o magistral livro do professor Amaral Lapa, “Campinas, a cidade, os cantos e os antros”, para conhecer como era o serviço de bondes nesta cidade, quando nem havia eletricidade e os carros eram puxados por burros. Mesmo depois, com o advento da luz elétrica, jamais soube de qualquer desrespeito dos motorneiros e condutores para com os passageiros. Em muitos casos, ouviam calados manifestações de falta de educação dos usuários e de rebeldia dos mais jovens. Sempre exibiam a bordo educação melhor do que a de muitos passageiros. Sem abrir a boca, eram mestres em dar lições de boas maneiras e civilidade.

Se você não teve a felicidade de viver naquela época e é forçado a sobreviver nos dias de hoje, vítima de “empresários” omissos e gananciosos e seus cupinchas, peça aos mais velhos que lhe contem quem foi seo Vignatti, o cobrador de bondes. Você verá alguém morrendo de saudade, com olhos marejados e um nó na garganta. Quem estivesse de mau humor, era só dar uma volta no bonde do seo Vignatti, que voltava curado e de bem com a vida.

Pregado no poste: “Unicamp está precisando de doutor em paredón?”

 

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