Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Pra PPP

Veio pelo Fábio Guimarães: na mineira Carmo da Cachoeira, o juiz Ronaldo Tovani soltou um preso pelo furto de duas galinhas porque:

“No dia cinco de outubro / Do ano ainda fluente / Em Carmo da Cachoeira / Terra de boa gente / Ocorreu fato inédito / Que me deixou descontente.

O jovem Alceu da Costa / Conhecido por ‘Rolinha’ / Aproveitando a madrugada / Resolveu sair da linha / Subtraindo de outrem / Duas saborosas galinhas. Apanhando um saco plástico / Que ali mesmo encontrou / O agente muito esperto / Escondeu o que furtou / Deixando o local do crime / Da maneira como entrou.
O senhor Gabriel Osório / Homem de muito tato / Notando que havia sido / A vítima do grave ato / Procurou a autoridade / Para relatar-lhe o fato / Ante a notícia do crime / A polícia diligente / Tomou as dores de Osório / E formou seu contingente / Um cabo e dois soldados / E quem sabe até um tenente.

Assim é que o aparato / Da Polícia Militar / Atendendo a ordem expressa / Do delegado titular / Não pensou em outra coisa / Senão em capturar. E depois de algum trabalho / O larápio foi encontrado / E num bar foi capturado / Não esboçou reação / Sendo conduzido então / À frente do delegado.

Perguntado pelo furto / Que havia cometido Respondeu Alceu da Costa / Bastante extrovertido / Desde quando furto é crime / Neste Brasil de bandidos? Ante tão forte argumento / Calou-se o delegado / Mas por dever do seu cargo / O flagrante foi lavrado / Recolhendo à cadeia / Aquele pobre coitado.

E hoje passado um mês / De ocorrida a prisão / Chega-me às mãos o inquérito / Que me parte o coração / Solto ou deixo preso / Esse mísero ladrão? Soltá-lo é decisão / Que a nossa lei refuta / Pois todos sabem que a lei / É pra pobre, preto e puta… / Por isso peço a Deus / Que norteie minha conduta.

É muito justa a lição / Do pai destas Alterosas / Não deve ficar na prisão / Quem furtou duas penosas / Se lá também não estão presas / Pessoas bem mais charmosas / Afinal não é tão grave / Aquilo que Alceu fez / Pois nunca foi do governo / Nem seqüestrou o Martinez / E muito menos do gás / Participou alguma vez
Desta forma é que concedo / A esse homem da simplória / Com base no CPP / Liberdade provisória / Para que volte para casa / E passe a viver na glória / Se virar homem honesto / E sair dessa sua trilha / Permaneça em Cachoeira / Ao lado de sua família / Devendo, se ao contrário / Mudar-se para Brasília!”

Pregado no poste: “Galinhas saborosas? Como ele sabe?”

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