Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Perda da identidade

Já não existem jardins em Jardinópolis, nem batatais em Batatais. Onde as borboremas de Borborema e as araras de Araras? Voaram as garças de Garça? Não sobrou um xavante para contar a história de Chavantes (a cidade se assina com ‘ch’, só para não ficar atrás das outras na ordem alfabética do Estado… Mas alegam que o nome vem de “Chave Avante” — alerta ao maquinista no poste da linha do trem.). Já viu o panorama de Panorama? (Aviso: não há ponte, nem preta). Ainda estão lá os vinhedos de Vinhedo, os pequenos vales de Valinhos e as pedreiras de Pedreira.

Hortolândia já decidiu entre as origens do horto e a saga dos Ortolan? Só que não sobrou um recanto sequer de sertão em Sertãozinho – é o único sertão-metrópole do mundo, aquela república trabalhadeira. Ainda se fica de ressaca em Pocinhos? E Aparecida, que só é ‘do Norte’ para rimar numa canção de Tonico e Tinoco? Matão trocou o mato grande por laranjais e canaviais. Porém, resta várzea em Várzea Paulista e, ao lado, ninguém sujou o campo de Campo Limpo? Por falar em campo, quem expulsou o São Bernardo do Campo? O Juiz de Fora? (Lembra-se dessa brincadeira?). Nova Odessa… Tão antiga, sempre nova. Americana, só por ser americana, também exigirá identificação de quem chega? Mas lá desce avião? O quê!? Só sobe!?

Já me disseram que não ficou um pé de lima em Limeira. Só viveiros. Então, por que não mudar para “Viveira”? Olha que nome bonito! Santa Rita do Passa Quatro – e depois daqueles quatro, ninguém por ali passou  — não fosse “Passa Quatro” nome de uma linha geológica, não erro de concordância, como em Lençóis Paulista. Santa Rita de Zequinha de Abreu, mas a rádio se chamava Francisco Alves…

Serra Azul? Nem com banho de anil. O Morro continua agudo em Morro Agudo – mesmo porque morro não pode ser, jamais, grave, reto ou obtuso. Nunca vi bebedouro em Bebedouro. É tanta a alegria, que chamam São Joaquim da Barra de São Joaquim da Farra. Itu: três letras e quer ser maior em tudo.

Lá perto de Franca (ao imperador, que nunca foi lá, nem I nem II), há Pedregulho, sem pedregulho e, dizem, alguns trilhos de bonde. Vá procurar jabuticabeiras em Jaboticabal, araçá em Araçatuba (mais fácil achar tuba), pitanga em Pitangueiras, avenca em Avencas ou ouro em Ourinhos. Graças a Deus não há Vesúvio em Pompéia. Mas faltam ponte-pretanos em Guarani, cubanos em Flórida Paulista, escola de navegação em Sagres, um bom estádio em Pacaembu e um sítio do pica-pau amarelo em Monteiro Lobato. Felizmente, sobram japoneses em Bastos.

Como a fé move montanhas, depois da eleição, vamos trazer as campinas de volta?

Pregado no poste: “A esperança é a última que morre”

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