Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Pano verde (e amarelo)

Brasil, imenso cassino, pano verde do Oiapoque ao Chuí. Viver aqui é loteria. O povo trabalha, mas não sabe se vai ganhar; vota, mas poderá ser roubado em vez de representado; o jovem estuda, mas ninguém garante que aprenderá; o professor ensina, mas não sabe se será compreendido; o médico trata, mas falta recurso para curar; o agricultor planta, mas é ameaçado pela invasão ou pela desvalorização do seu produto. Quem sai de casa não sabe se voltará vivo ou recebido pela família num velório. E assim vamos nós, uma roleta, às vezes russa, todo dia. São 160 milhões de pinos de boliche ou placas de tiro ao alvo, prontos para tombar.

Megasena, supersena, quina, lotomania, esportiva, da habitação, raspadinha, bingo, federal, estadual, o escambau. São bilhões ao fim de cada ano – “o imposto dos imbecis”, alguém já disse. É a fé dos incrédulos, que espalham bilhetes por altares, aquários, meias velhas, camisinhas novas ou usadas, cuecas limpas, entre trevos, asas de borboletas, penas de coruja — ora, vaca, galo, porco, se for o bicho.

A última enganação é o dinheiro do Fundo de Garantia, levado não se sabe pra onde nem por quem, mas que foi, foi. Não fosse o Brasil, aqui. Pode-se perguntar: é justo que pessoa que não tem conta no FGTS, não votou no Collor nem no Sarney, em cujos governos se deu o calote, seja chamada a pagar essa dívida que não fez?

A solução vem de uma grande mestra, a querida Zilda Rubinski. Uma aula (Outra, porque na vida, ela só sabe ensinar. E como!): “O governo pode matar dois coelhos com uma cajadada só. Paga a dívida com o dinheiro das loterias e, se alguém reclamar, é porque está se beneficiando de eventuais desvios desse dinheiro que, afinal, ninguém nunca sabe onde vai parar. Depois, é só investigar o reclamante. Já imaginou todo esse dinheiro das loterias nas mãos dos verdadeiros donos, os trabalhadores, eternas vítimas? A economia vai receber um reforço nunca visto. Haja emprego para abastecer tanta necessidade.”.

Um beijo querida! Pena que o FHC e o Malan não tenham sido seus alunos. Infelizes!

Pregado no poste: “Vivendo e ensinando.”

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