Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Os últimos

Esta crônica era para se chamar “O último Lorde e o último Prefeito” – assim combinei com meu irmão Roberto Godoy. Mas nem sempre a verdade se escreve com vinte letras, embora apenas cinco bastem para se dizer adeus. Com cinco letras, o lado bom de Campinas se despediu de seu último prefeito e, agora, de seu último Lorde, Lorde Edgard de Souza, pai de cinco escolas de samba, filhas que partiram antes deles.

Foi perto do fim da primeira gestão do Grama. Paulo Moura, um dos maiores saxofonistas do mundo, maestro e compositor, fez para orquestra sinfônica e escola de samba a sinfonia “Estação Primeira de Mangueira”. Diz o Godoy que essa peça “é mui raramente encenada”, dadas as complicações, como, por exemplo, juntar e ensaiar 60 membros de uma bateria com uma sinfônica inteira. “Mas o resultado é emocionante”. Deve ser. Nos primeiros acordes, a orquestra deixa rolar temas ligados ao samba tradicional; suavemente repercutem os tamborins. Quando entra a bateria, tudo explode na avenida. “Arrepia”.

Nos últimos 25 ou 30 anos, essa arte foi ouvda uma vez, com a própria irmandade de Cartola, Jamelão, Carlos Cachaça, Gigi, dona Zica e dona Neuma, e outra, com o Benito Juarez, em Campinas, pela bendita vontade do Grama. (Que honra, Mangueira! Que honra!). Arrumar 60 ritmistas numa bateria como a da Mangueira é fácil. Aqui, tiveram de convocar gente de todas, para aparecer no ensaio meia dúzia de gatos pingados, sem couro nem para o tamborim. Rivalidade: os de uma escola não queriam tocar com os da outra.

Foi aí que entraram em cena nosso último prefeito e nosso último Lorde. Ordem do Edgard: “O Grama precisa de nós para Campinas!” Putz! Não faltou ninguém! No primeiro ensaio, no Centro de Convivência, lanchinho, refrigerante e café. No segundo, ordem do Grama: “Brahma!” Nossa! Até Carlos Gomes sambou!

Como era bom viver nesta cidade! Como era bom! Ninguém precisava morrer para ir pro Céu.

Pregado no poste: “Em vez de cortar salário e férias, corta os políticos, uai!”

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