Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

“Olha!”

Elizaberth Darcy, mãe do narrador de futebol Sílvio Luiz (gente boa toda vida), era garota-propaganda. Lembra? Claro que não! Só eu, mesmo. Tinha de provar o poder de penetração do detergente ODD na fibra de um tecido engordurado. Colocou um quadradinho de pano num copo com água e ODD e outro num copo só com água. Nada de o paninho com detergente mergulhar. Ela começou a soprar… Nada. Soprou mais forte… Nada. Soprou tão forte que derrubou o copo! Tudo ao vivo, coitada.

Idalina de Oliveira, a “Silvana” do “Capitão 7” (Lembra? Pô, só eu para lembrar das coisas aqui!?), também passou apertado. Não, não deu vontade de ir ao banheiro bem na hora de anunciar “o novo doce dois em um da Cica”. Lá estavam a goibada e a marmelada brancas num barra só, dentro da lata, em cima da mesa. Abrir a lata foi fácil. Difícil foi tirar o doce e pôr no prato. Também, só deram faca para a Idalina. Como não saísse, ela enfiou o dedo no doce e puxou. Caiu no chão. Foi a única vez em que vi a glamurosa Idalina (até hoje, classuda como ela só) de quatro, catando goiabada e marmelada no piso do estúdio. Um dia, o sofá-cama abriu de repente e ela caiu deitada. Nele.

Mas a gafe, mesmo, daquelas de arrasar o produto, aconteceu em Campinas. Infezlimente, não era um anúncio para televisão. 1957, por aí. A fábrica de Calçados Makerli patrocinava um programa na TV Tupi, apresentado pelo J. Silvestre. Várias casinhas de coelhos faziam um círculo no chão. O candidato tinha de adivinhar em que “toca” o coelho entraria.

Naquele ano foi lançado, também, o calçado Vulcabrás (fabricado aí em Jundiaí). Os pais adoraram. O Vulcabrás vinha com a promessa de durar o grupo escolar inteiro. “Se bobear, e o pé não crescer muito, entra no ginásio”, disse o vendedor da Picoloto para a minha mãe. Sapato horrível, mas era o primeiro com sola de borracha vulcanizada, podia molhar, dobrar, amassar, chutar pedra, bola, subir no muro, pular do bonde andando, ir à missa, às festas. Aquele modelo de feiúra agüentava tudo.

Numa noite, quatro moleques diante da TV: hoje os venerandos senhores Luís Carlos Rossi, Lineu Renato Henriques, Lélio Roberto Henriques e este locutor que vos escreve (venerando nem tanto…). Passava o programa do J. Silvestre. Depois, veio um anúncio do Vulcabrás. O filme mostrava um homem dobrando e amassando o dito cujo, que não deformava nem perdia o vinco, muito antes das havaianas e da calça de Nycron. Eu, de Vulcabrás; o Beto, de Makerli. Meio na marra, tiraram meus sapatos. Apertaram, amassaram, dobraram e o Vulcabrás ali, olhando para tudo mundo, com cara de novo. O Beto não agüentou o desafio e tirou o Makerli. Amassou, dobrou e o Makerli… partiu-se ao meio!!!

Nunca mais vi ninguém na vida com uma cara igual a dele.

Pregado no poste: “Desarmam o povo para ninguém aderir à luta armada?”

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