Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Oráculos de Deus

Minha avó olhava para esses tipinhos e cochichava: “Ói só o jeito dele…”. Todo mundo conhece. É o prepotente, o pernóstico, o sabichão, o arrogante, o posudo, o ‘caga-regras’, dono do mundo, o “deixa-comigo”. É o famoso degas, o pancudo, o tal. Antanho, essa figura se manifestava assim: “Quem fez isso foi o papai aqui!”. Totinha, comentarista de futebol aqui de Ribeirão Preto, que conhece o técnico Leão desde bebê, brinca com o moço: “Tem gente quem veio ao mundo para ver; mas o Leão veio para ser visto…”.

A ‘Jovem Guarda’ ganhou música do Erasmão, consagrada pelo Eduardo Araújo, para ironizar o ‘gostosão’. Lembra?

“Meu carro é vermelho / Não uso espelho pra me pentear / Botinha sem meia / Pois só na areia eu sei trabalhar / Cabelo na testa, sou o dono da festa / Pertenço aos dez mais / Se você quiser experimentar / Sei que vai gostar / Quando eu apareço o comentário é geral / Ele é o bom, é o bom demais / Ter muitas garotas para mim é normal / Eu sou o bom entre os dez mais…”

Logo, o Carlos Imperial deu o troco, com o mesmo Eduardo: “Ele é o manjado paquera / Sempre está na boca de espera / Canta todo mundo / Mas sempre fica na mão / Goiabão, goiabão, goiabão…” Dizem que o ‘Impera’ se inspirou em um campineiro metido a besta. O elemento tinha um Jaguar… sempre vazio. Trazia artistas, mas elas preferiam outras companhias despois dos shows. Enchia de garotas as mesinhas da lanchonete das Lojas Americanas, pagava a conta, e elas se mandavam, deixando-o sozinho. O nome? O Roberto Godoy e o Renato Otranto se lembram. Eu me esqueci…

O tipo se encheu tanto que virou cantor da boate El Cairo e trocava as letras das músicas só para se vingar das mulheres. Veja o que ele fez com “Ninguém me ama”, do Antônio Maria e Fernando Lobo:

“Ninguém te ama, ninguém te quer / Ninguém te chama de meu amor / A vida passa, e tu sem ninguém / E quem te abraça não te quer bem / Vais pela noite tão longa de fracasso em fracasso / E hoje descrente de tudo te resta o cansaço / Cansaço da vida, cansaço de ti/ Velhice chegando e tu chegando ao fim.”

Numa noite, a peça exagerou. Coitado do Cataldo Bove: caiu do banquinho do piano — pensaram que ele estivesse de pileque; justo o Cataldo, que nem bebia. Nosso herói pegou o microfone e anunciou: “De Pixinguinha e Braguinha, ‘Presunçoso’”. E mandou ver:

“Teu coração, não sei porque / Bate feliz quando me vê / E os teus olhos ficam sorrindo /  E pelas ruas vão me seguindo / Mas mesmo assim fujo, de ti… / Ah… se eu soubesse como és tão carinhosa / E o muito, muito que me queres / Como é sincero o teu amor / Sabes que eu não fugiria mais de ti… / Vou, vou, vou, vou / Vou sentir o calor / Dos lábios teus / À procura dos meus… / Vou matar essa paixão / Que te devora o coração / E só assim, então /Serás feliz, bem feliz…

Pregado no poste: “Desarma o povo, censura a imprensa e implanta a ditadura. É isso?”

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