Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1997Crônicas

O mercado do casório

Os anos eram iguais todos os anos. Janeiro, férias; fevereiro, Carnaval; março ou abril, Semana Santa; maio, mês de Maria, das noivas e das mães; junho, festas caipiras e juninas; julho, férias escolares; agosto, mês do folclore e dos pais e dos cachorros loucos, sem nada ter um com o outro, claro; setembro, Semana da Pátria; outubro, Criança, Professores e Nossa Senhora Aparecida e — Ela que nos ajude — eleições; novembro, Finados, Todos os Santos, República e, às vezes, segundo turno; dezembro, Natal.

Agora, tudo vem mudando. Carnaval, com essas “micaretas não sei das quantas”, acontece o ano inteiro e ainda avisam que é “fora de época”. Em Barretos, a festa do peão de boiadeiro, que tem tudo a ver com festa caipira, é no fim de agosto. Ela quer ser uma terra de caipiras americanos e não brasileiros. Logo, logo, vão chamar Barretos de “Nashville brasileira”, quer apostar? Essa turma adora ser colonizada. Não chamam Ribeirão Preto de “Califórnia brasileira”?. Se bem que aí, a Califórnia é que deveria ser a “Ribeirão americana”…

Pois bem. Um estudo de uns vinte anos atrás do IBGE apareceu aqui nos alfarrábios. Dados curiosos. Dezembro é o mês em que nasciam menos crianças no Brasil. Por causa do Carnaval, quase sempre em fevereiro, pensei que novembro, nove meses depois, fosse o mês de maior número de nascimentos, mas não é… Era em março. O IBGE não interpreta nem aponta causas para nada. Mas dá para deduzir. Como o maior número de casamentos era em maio, a “encomenda” era feita em junho e, nove meses depois… março. Será que é isso?

A pesquisa mostra que em março de 1977, nasceram e foram registrados 239.746 bebês no Brasil, enquanto em dezembro, só 95.114. Como dezembro vem nove meses depois de março, dá para concluir, também, que março é o mês menos favorável para certas coisas… Mas o IBGE também não explica os motivos da baixa freqüência dessas “certas coisas”. O que março tem, afinal, que os outros não têm? O Carnaval, ao contrário da expectativa, não é estimulante para “certas coisas”, porque novembro era, justamente, o segundo mês com menor número de nascimentos: 158.749.

Há pouco tempo, descobriram que maio não é mais o “mês das noivas”. A crise econômica e a inflação empurraram os casórios para dezembro. Os casais aproveitam o décimo terceiro salário, para começar vida nova com menos aperto — é a explicação. Com isso, é de se esperar que outubro assuma a liderança dos nascimentos. Será?

Há sinais, porém, de que os tempos, e a moda, começam a mudar outra vez. Semana passada, um colega me pediu para tirar férias em janeiro, porque vai se casar em novembro. Sugeri: “Case no fim de dezembro e emende com as férias. Não é melhor?” Olhe só a resposta, com a devida explicação:

— De jeito nenhum. Saio perdendo. Fiz uma pesquisa de mercado (!) e descobri que se eu me casar em dezembro, vou ganhar menos presentes. Os convidados dão um presente só, valendo para o Natal e para o casamento. É melhor casar em novembro: ganho duas vezes!

Atenção maternidades do Brasil, preparem-se para quando setembro vier.

 

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