Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1997Crônicas

O “paraíso”

“Campinas já é o paraíso encantado de anos atrás. A cidade reconquistou o charme. A violência perdeu. O saneamento básico se expande na mesma proporção em que o esgoto, tratado, não inunda os mananciais. Por essas e outras razões, é que passa, cada vez mais, a ser atraente para os que aqui vivem, trabalham e mantêm com ela vínculos sentimentais. O dono de uma casa lotérica, Luís Carlos Peralta, há sete anos mora aqui. Ele apostou numa expectativa que virou realidade: Campinas é a mais adequada para seus filhos, em idade escolar. ‘Apareceu uma chance para comprar um terreno e eu nem titubeei’, conta ele. Peralta e sua família moravam em outra cidade, num apartamento que aprisionava seus filhos. ‘Meu filho, na época, tinha seis anos e um gênio agressivo. Hoje, já adolescente, é uma pessoa tranqüila’ comemora.”

“O médico ortopedista Renato Luiz Bevilacqua morava em Valinhos até 1995, quando decidiu voltar para Campinas, onde morou até 1992. A troca foi das mais felizes, segundo ele. O médico não se preocupa mais com violência em Campinas: ‘Nem me lembro mais da última vez em que fui assaltado’, comenta. Garantiu, ainda, que quando seu ritmo de vida for menos intenso, não pretende deixar Campinas – ele mora no Jardim Proença. Seu sonho é refugiar-se com a família dentro do território campineiro, onde, segundo ele, ainda se vive ‘com mais segurança e qualidade de vida mais apurada’, afirma.”

“Para Bevilacqua, Campinas não inchou, mas evoluiu. Por conta dessa evolução, o médico acredita que os problemas diminuíram. ‘E, não atingidos por estes problemas, muitos bairros já contam com saneamento básico e outras benfeitorias’, elogia.”

“O publicitário Sílvio Gumiero, diretor da agência Produto Propaganda, mora em Valinhos em um condomínio fechado, há mais de 30 anos. Mas ele garante que moraria em Campinas por que ‘é muito pacífica e segura’, compara. ‘Lá, contaria com alguns privilégios que seriam impossíveis aqui. Entre os privilégios de Campinas, ele destaca o fato de poder conhecer quase todo mundo na cidade: ‘À noite, correria pelas ruas sem qualquer preocupação, coisa inviável aqui’, lamenta. Gumiero faz questão de enfatizar algumas considerações sobre Campinas: ‘É uma cidade maravilhosa, com muitas opções de lazer, a menos de 100 quilômetros de São Paulo, com comércio diversificado. O problema menor é a segurança’, observa.”

“No último dia 6, a mulher e o filho do locutor Oliveira Andrade, da Rede Globo, Magali Fernandes, de 44 anos, e Fernando, 15, foram assaltados e mantidos como reféns por duas horas. O fato traumatizou a todos, a ponto de fazer com que Oliveira cogite a possibilidade de se mudar para Campinas. ‘Neste caso, não teria de abrir mão de alguns confortos, como o de poder criar meus cachorros ou ler meu jornal sossegado no quintal’. O locutor disse que a família tem todos os motivos para escolher Campinas. Afinal, ele trabalha em São Paulo e dois de seus três filhos estudam fora da cidade. ‘Eu precisaria morar aí’, disse ele, por telefone, na quarta-feira, horas antes de transmitir, de Porto Alegre, a partida entre Internacional e Palmeiras. ‘Eu quero ir para aí porque sou campineiro. Gosto daí, assim como minha mulher e meu filho’. Andrade disse que, depois do assalto, tem pensado seriamente em mudar-se. ‘E não fazer como o Luciano do Valle, da Rede Bandeirantes, que mora em Vinhedo’, desafiou.”

PS: Estava sonhando quando escrevi essa crônica. Perdão, Peralta, Bevilacqua, Gumiero e Oliveirinha. Eu lia a reportagem do Antônio Fornazieri Jr. sobre a violência em Campinas, adormeci e sonhei tudo ao contrário.

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