Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1997Crônicas

É ótimo!

Dois dias de enxaqueca e meia dúzia de analgésicos depois, foi um livro que acabou com a dor de cabeça que me moía os miolos. O Ronald Fucs, repórter do jornal O Globo, e o Bernardo Jablonski, roteirista da TV Globo, são professores há mais de vinte anos e quase me matam de rir com uma obra-prima: “Luta nas classes — 1001 maneiras de detonar seu professor”, da Frente Editora. São histórias vividas nas salas de aula e estórias nascidas no imaginário de moleques e molecas que as planejaram, mas não tiveram coragem de executar. Servem para todas as classes, da pré-escola à universidade. Nada de imoral, ainda não vi nem palavrões, estilo brasileiríssimo de brincar.

Os professores que se sentirem indignados já podem se sentir vingados. Fucs e Jablonski estão preparando a obra “O mestre contra-ataca: como infernizar a vida de um estudante”.

Ainda estou na página 14, porque a leitura provoca um ataque de riso a cada linha e é impossível continuar: as lágrimas não deixam. Há que se ler aos poucos. É um manual capaz de enlouquecer qualquer mestre. Como é escrito por dois deles, serve para que os professores também “aprendam” a se defender das armadilhas dos “pestinhas”. Na página l4, há a seguinte sugestão:

“Leve o celular do seu pai para a aula. Se seu pai não tiver um, compre no camelô aquele que parece de verdade. No meio da aula, faça a geripoca tocar, atenda e fale em tom suficientemente alto para que todos possam ouvir, mas relativamente baixo, para dar a impressão de que você está sendo educado e discreto. Escolha uma das opções a seguir”:

— Agora não posso falar contigo, estou no meio de uma aula. O professor é carente e precisa de atenção.

— Vende, vende tudo. Principalmente as blue chips (pronuncie bluxips). Depois só as daquela estatal, aquela da inside information (pronuncie insaidinformeichom). Quando a bolsa de Tóquio fechar me liga de novo. OK)?

— Ah, saiu o resultado do teste do HIV? E aí? O QUÊ???!!! Tem certeza? (Aqui faça uma longa pausa e depois continue com a voz trêmula) Sei, sei… tá bem… não, tudo bem… prefiro não falar sobre isso agora. Tchau. (Desligue e fique olhando para o infinito com ar desolado.)

— Oi. E aí, tá quanto o grama? Ah é? Mas é da pura? Então pode comprar, sim. Meio quilo tá bom. Não, macon… quer dizer, não, fumar não quero mais não.

— Oi. O quê? Fala mais alto que a ligação tá ruim. Sexo o quê? O quê? Quantas? O quê? Onde? A ruivinha vai também? O quê? E aquela mulata doidona? Aquela da Playboy… Opa, legal! Aparelho o quê? Ah sim, levo. Creme o quê? Tá legal, eu levo também (nota do autor: não faça isso se você for mulher).

— No hospital? Tem certeza? Quando foi? Não me diga! Como foi isso? Tiroteio? Atingiu o cérebro? O fígado também? O rim? Os dois? O pulmão? O olho? O pâncreas? Os dois? Ah, só tem um? O braço? Ah, o baço? Tudo bem, estou correndo praí!

Quando me recuperei dessa, pulei para a página 18, onde eles “ensinam” como a classe deve combinar para responder à chamada. Não vou contar, mas foi aí que tudo escureceu. A dor de cabeça passou, mas veio a dor de barriga…

PS: Acorda Chico!

 

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