Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

O fraque do nosso Carlito

Essa vai pegar fogo. Vem das lembranças do querido alfaiate Palermo, que tinha ateliê ali na César Bierrenbach, junto à loja de Chapéus Cury, na Barão de Jaguara. Ainda não achou? Então, vou apelar para o estômago: na frente do suíço, que fazia o melhor cachorro-quente do universo, naquele carrinho parado diante da Drogasil. Até Deus comia ali — e lamentava para o filho: “Aqui é que vocês tinham de ter feito a última ceia…” Era bom de mais da conta.

Mais ou menos perto dali, na Conceição quase Glicério, a loja Renner anunciava “A boa roupa, ponto por ponto”. Era, mas o Palermo, o Lavorini, o Silvio Fiolo, o Lázaro Bibiano, o Lazinho e o seo Vito e o João Fida faziam melhor. O Lazinho e o seo Vito ficavam naquele prédio em cima do Café Regina, no térreo era o Banco Inco (de Santa Catarina). E os amigos indicavam o caminho assim: “A janela é aquela. Quando subir a escada, se você enxergar o bumbum na estátua do maestro Carlos Gomes… chegou!”.

Então, o nosso Palermo conta esta: “Quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo na Suécia, o grande artista campineiro Carlito Maia (monumental figura humana) encomendou uma fatiota para a peça ‘A Copa do Mundo é nossa’, que ele ia exibir no Teatro Municipal, para comemorar. Fiz um fraque para entrar na história: camisa branca, colete verde, paletó amarelo, calça azul e, para completar, um chapéu feito pelo Palombo, cheio de estrelas. Foi um sucesso”, como tudo o que o nosso Carlito fazia.

Tanto que, certa vez, um jornalista (não vou dizer quem é, Renato Otranto), ainda menino, aluno do Cesário Motta, viu o Carlito no Bonde 12, do Bosque, e puxou conversa:

— Seo Carlito, o professor me pediu um trabalho sobre o folclore brasileiro. Como eu faço?

— Eu ajudo. Você faz o texto e eu faço a capa. O pavão é o símbolo do folclore brasileiro. Daqui a cinco dias, passe em casa para buscar a capa.

Cinco dias depois, o Renato…, digo, o menino foi lá. O trabalho ficou maravilhoso – digno de um dos mais sensíveis artistas plásticos do Brasil. Ao receber a tarefa pronta, o professor, espantado com a qualidade, deu nota 10 para o menino, com uma observação muito justa: “Dei dez só para a capa, que merece até mais.” No dia da exibição dos trabalhos, a escola só expôs a capa…

Pregado no poste: “Vai morar em Barão Geraldo, dona Izalene?”

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