Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

O dólar sobe; a do lar sofre

Com aplausos da santa que mora aqui em casa, recebo da Maria da Graça do Cheda, mãe do Chedinha e do Tchelo, o relato dos apuros por que passam mães campineiras:

“Saí à tarde para levar o Chedinha ao exame médico e psicotécnico para carteira de motorista. Disse ao Tchélo (o caçula): ‘Quer vir ou espera a mamãe?’ Como ele me conhece melhor que eu a mim mesma, enfiou os chinelos e veio.

Deixei um amigo dele no Poupa Tempo (aquilo não parece Brasil, fantástico), e o mais velho na clínica. Na locadora, devolvi umas fitas; fui à padaria comprar frios; na casa de uma amiga devolvi uns livros, e finalmente no sapateiro, retirei um par de tênis pronto havia uma semana. Resultado: com o trânsito caótico, levei duas horas para fazer só isso. Quando voltamos, Marcelo dormia no banco do carro. Disse: ‘Vamos, já estamos em casa.’ Ele respondeu: ‘Como já? Faz duas horas que estou aqui, e você diz já?’.

Não percebemos as pequenas coisas que nos roubam o tempo, e o cara pergunta: ‘Profissão?’ Respondo: ‘Do lar…’ Ou da rua, mãetorista ou…

É pouco? Descobriram o diagnóstico da minha moléstia: Desordem da Atenção Deficitária na Idade Avançada — DADIA. Explico: decidi lavar o carro; na garagem, vi a correspondência largada na mesa. OK, antes vou dar uma olhada nela — pode ter algo urgente.

Ponho as chaves do carro na escrivaninha, e quando vou jogar fora as propagandas inúteis, vejo a lixeira repleta. OK, vou colocar as contas a pagar na escrivaninha e jogar o lixo, mas já que vou perto da caixa do Correio, pago primeiro estas contas.

Onde está meu talão de cheques? Ops… tenho só uma folha! Os talões novos estão na escrivaninha. Oh, o guaraná que eu estava bebendo! Vou buscar aqueles talões, mas antes levo o guaraná para longe do computador. Em direção à cozinha, presto atenção às flores, que precisam de água já. Ponho o guaraná no balcão da cozinha e, oh! achei os óculos! Melhor guardá-los logo.

Encho o regador com água e rumo para as flores… Ah! Alguém deixou o controle remoto na cozinha. À noite, nunca iremos procurá-lo lá. É melhor levá-lo para a sala, seu lugar. Rego as plantas e, sem querer, derramo água no chão. Jogo o controle no sofá, ando pelo corredor e tento me lembrar do que ia fazer.

Fim do dia: o carro não está lavado; as contas não estão pagas; o guaraná ainda está largado no balcão da cozinha; as flores foram regadas pela metade; o talão de cheques só tem uma folha e parece que não encontro as chaves do carro! Quando tento entender porque nada foi feito, fico atônita — sei que estive ocupada o dia todo. Isto é uma coisa seriíssima e irei em busca de auxílio. Antes, checo meu e-mail…

‘DADIA: Favor enviar para todo mundo que você conhece, pois não me lembro para quem já enviei. Não mande de volta para mim — posso enviar a você de novo!’”

Pregado no poste: “Ser mãe é padecer em Campinas”

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