Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Essas crianças…

Sabe aquela brincadeira de apertar a campainha das casas e sair correndo? É mais velha que a Catedral. Só não é mais do que o velho Alecrim, porque quando ele nasceu, não havia campainha. Nem Campinas. Pois é, sábado, observando do alto de um prédio de apartamentos meninos (e meninas!) que brincavam na rua, em Marília, aprendi mais uma. E me diverti. Pela santa ingenuidade que (ainda) marca a vida de crianças em cidades menores, todos foram pegos com a boca na botija.

Foi assim: durante a semana, eles (uns cinco ou seis) compraram dez cadeados. Bem cedinho, trancaram os portões das casas de uma rua (pra fazer traquinagem, eles madrugam). Depois, ficaram de butuca na ponta da rua, curtindo a luta de donas-de-casa que queriam ir até a padaria; de empregadas aflitas chegando para trabalhar; de gente atormentada de pressa para ir ao serviço e de venerandos senhores intrigados com a ‘novidade’ que os prendia dentro de casa. Aos poucos, um via que a casa do outro também estava trancafiada enquanto na rua juntava gente curiosa, atraída pelos impropérios (Vixe, que palavra feia!) que os “presos” disparavam pelos portões afora. Muito gozado.

Foi fácil descobrir os autores. Primeiro, porque todos estavam postados na esquina, bem na frente da loja onde compraram os cadeados. Segundo, porque todas as “armas do crime” foram adquiridas na conta do pai de um deles. Um banzé que não acabou em pizza, mas vai render assunto pra semana inteira, com todo mundo perdoado.

Pior é o que fizeram há uns quinze dias. (Os meninos do cadeado juram de pés juntos que não são os culpados.). Eles me contaram que um guarda-noturno, também aqui de Marília, vinha pegando no pé de “outros meninos”, acostumados a fazer arruaça de madrugada. Arruaça ingênua, daquelas de apitar, imitando o apito da ronda dos guardas, para confundi-los (Ainda existe guarda noturno que apita, em Campinas?). Pois bem, pegaram o rolo de náilon de varal da casa de um deles e amarraram em baixo do selim da bicicleta do guarda e na grande ferro de uma mureta. No fim da jornada, ainda escuro, o coitado montou na ‘magrela’ e partiu. O tombo aconteceu 50 metros à frente. Está procurando os autores até agora.

Pregado no poste: “Bomba na casa dos outros é refresco, né Bush?”

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