Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Novos tempos novos pais

Nos anos 50s, a maior agitação no comércio era o Natal. Concurso de vitrines – disputadíssimo pela Anauate, Soberana, Ezequiel, Renner, Garbo, Di Lácio, Galeria Paulista, Etam – que passavam 24 horas acesas, lojas abertas até dez da noite quase todo dezembro. Não havia quem ousasse nem passar o dedão sujo de sorvete de chocolate no vidro. Depois, quase empatados em segundo lugar, mães e pais. Em seguida, o Dia da Criança e, em último, o Dia dos Namorados. Em todas as datas maiores do ano, as vitrines eram a coqueluche na cidade. Ainda há vitrines ou as lojas estão atrás das grandes?

Prefiro falar sobre Dia dos Pais hoje em vez de esperar o dia deles, porque, parece, os antigos “chefes de família” estão em baixa. Um amigo, professor de Economia, de nome Vicente Golfeto, pesquisa que pesquisa o comportamento do comércio e dos fregueses e descobre: Papai Noel, mães, crianças e namorados estão com tudo; os pais, com nada. Até o mês de setembro já vende mais do que agosto. Diga, Golfeto:

A família está se desmontando. O jovem não vê mais o pai como referência nem se identifica com ele; o “velho” que saiu de casa ou é apenas um presente ausente foi trocado por Ronaldinho ou pelo traficante do bairro. O primeiro é o sonho, o segundo, o sustento – basta ajudar no “negócio”.

Economia é tecnologia na produção e psicologia no consumo. A tecnologia está acabando com o emprego e o fim do emprego é o começo da criminalidade. O jovem quer mais e mais, o pai pode menos e menos – consome-se mais por ansiedade do que por necessidade.

O presente do pai era gravata (em desuso) e par de meia. O pai trocou os brinquedos lúdicos pelos eletrônicos para presentear o filho. Ou presentear a ele mesmo? Ao filho ele impõe judô, inglês, natação, informática… E usa o tempo que o filho não tem para brincar, com a parafernália da sociedade eletrointensiva. É o dom Fulgêncio, o homem que não teve infância.

Nessa “evolução”, mudanças curiosas no comportamento consumista de cada homenageado. Antigamente, presente de namorado era flores, perfumes e restaurante. Hoje, líder absoluto de mercado        é o motel. Tente fazer agora uma reserva para 12 de junho… No interior paulista, quem ganha sempre é a mãe. Sorte dela, porque seu dia cai no começo das safras e o Natal dela está sempre garantido com o fim das colheitas e o décimo terceiro.

Vamos com cuidado. Ansiedade e consumismo extinguem o Dia dos Pais e pegarão até o Natal. Um pai italiano de Turim percebeu e deixou encomendada a lápide: “Giuseppe, morto aos 30, enterrado aos 60”.

Pregado no poste: “Começou o mês de agosto”

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