Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Novo olhar

Eles não enxergam com os olhos, mas com o coração, e sentem como ninguém o mundo que os cerca. Recebi do Instituto Sul Mato-grossense para Cegos um manual singelo de “relacionamento com as pessoas cegas”, que orienta como aqueles que apenas vêem tudo se devem comportar com aqueles que, quase sempre, enxergam mais. Pequenas regras que, no fundo, significam apenas respeito humano. Vamos lá?

  1. Não se dirija a um cego chamando-o de cego ou ceguinho. Você talvez não perceba a indelicadeza de designar alguém pela sua deficiência.
  2. Numa conversa com um cego, não evite, porém, a palavra “cego”, nem substitua “ver” por “ouvir”. Assim, você reforça preconceitos.
  3. Cegueira não é desgraça. Ela impõe limitações, mas o cego tem condições de ter uma vida absolutamente normal.
  4. Cego não precisa de pena, mas de compreensão e oportunidade.
  5. Não recuse a colaboração de um cego. Como qualquer pessoa, ele pode ser útil.
  6. Não trate um cego como um ser diferente. Ele também está interessado em tudo quanto lhe interessa.
  7. Não generalize aspectos positivos ou negativos de um cego. A natureza dotou todos os seres de diferenças individuais.
  8. Não limite o cego mais do que a própria cegueira, impedindo-o de fazer o que ele sabe, pode e deve fazer sozinho.
  9. Não fale de “sexto sentido” nem de “compensação da natureza”, perpetuando conceitos errôneos. O cego desenvolve recursos mentais existentes em todas as criaturas.
  10. Não se dirija a um cego por meio de seu acompanhante, supondo, assim, que ele não saberá compreendê-lo. Fale diretamente com ele.
  11. Em vez de segurar o cego pelo braço, deixe que ele segure seu braço, pois pelo movimento de seu corpo, ele perceberá melhor o caminho a ser percorrido.
  12. Não carregue nem puxe um cego numa condução ou escada nem o rode pelos braços, empurrando-o depois para uma cadeira; ao contrário, ponha a mão dele no encosto da cadeira.
  13. Não diga apenas “à direita”, “à esquerda”, “aqui” ou “ali” para orientar um cego. Essas informações são falhas e imprecisas.
  14. Portas entreabertas no caminho de um cego são um perigo. Conserve-as encostadas na parede ou fechadas.
  15. Ao entrar num recinto onde se encontra um cego, fale com ele; isso o ajuda a identificá-lo.
  16. Se estiver conversando com um cego, avise-o ao se afastar, pois ele poderá continuar falando sozinho.
  17. Ao encontrar um cego, não perca tempo com perguntas como “sabe quem sou seu?” nem se anuncie a todo instante, quando ele já conhecer suficientemente sua voz.
  18. Ao apresentar um cego a outra pessoa, faça-o numa posição correta, impedindo-o de estender a mão para o lado contrário em que se encontra a pessoa.
  19. Não oriente a todo tempo a colher ou o garfo de um cego, mas só quando for extremamente necessário.
  20. Procure ajudar o cego que pretende atravessar a rua ou tomar uma condução.
  21. Quando passear com um cego que já estiver acompanhado, não o pegue pelo outro braço nem lhe dê avisos a todo instante. Deixe-o ser orientado só por quem o estiver guiando.
  22. Procure atravessar a rua com um cego andando em linha reta, pois, do contrário, ele pode perder a orientação.
  23. Apresente seu visitante cego a todas as pessoas do grupo, para facilitar sua integração.
  24. Não deixe de falar de coisas inadequadas quanto à aparência de um cego. Mas faça com delicadeza para que ele não passe por situações constrangedoras.

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