Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Não ‘trem’ de que

Quando li na primeira página de domingo do “Correio” a manchete “Trilhos do VLT vão para o Nordeste”, pensei: “Ih! Eles se enganaram, porque aqueles trilhos são os dos bondes.”. Foi só ler a notícia, descobri que o fato se refere ao Nordeste do Brasil e não o Nordeste Paulista. Você sabe quem contou essa história de que os trilhos dos bondes de Campinas foram para o Nordeste do Estado? Mas eles não estão aqui, não estão, mesmo. Pela primeira e única vez, as paralelas de ferro se encontraram, lá pras bandas de não sei onde. Uma vitória sobre a Física.

E olha que esta terra, berço das mais importantes ferrovias do Estado, a Paulista, de 1872, e a Mojiana, de 1875, era uma verdadeira precursora de um metrô de superfície. O trem levava campineiros para todo o lado. Não era só essa bela estação no alto da Treze de Maio, aquela da Praça Mauá, no Guanabara, ou a da Sorocabana, na Avenida Governador Pedro de Toledo.

Com ajuda do Ralph Giesbrecht, vamos passear no tempo?

O Mercadão era uma estação, para os trens da Funilense que vinham de Cosmópolis. A Estação Samambaia — um posto telegráfico — ficava pelos lados da Swift (hoje, supermercado Extra). Da Estação Boa Vista, partiam o ramal de Guedes, para atender à Replan, e outro, da Sorocabana, para Mairinque. Na divisa das fazendas Quirino e Rocha, a Anhumas. Depois do posto telegráfico de Gety, a estação Anhumas. A de Tanquinho morreu como paiol da fazenda Santa Maria. Onde está o Solar das Andorinhas, era a estação Desembargador Furtado, dono da fazenda que mais produzia café no município. A Carlos Gomes, recuperada pelos heróis da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, fica no caminho de Jaguariuna. Houve uma estação de trens no Cambuí, para facilitar a vida de quem ia para Sousas, Joaquim Egydio e serra das Cabras. Pertenceu ao Ramal Férreo Campineiro e depois à Sorocaba. Outra que morreu nas mãos da Sorocabana foi a Estação Cavalcanti, fim da linha que saía da frente da Estação da Paulista, seguia pela Andrade de Neves, Guanabara, até a Vila Brandina, na maior fazenda de gado leiteiro da cidade. O registro da estação Capoeira Grande perdeu-se na poeira, assim como o de Queda e Venda Nova. Mas elas existiram. A de Viracopos, de 1978, veja você, está abandonada e depredada (sofreu bombardeio aéreo?).

Quase todo esse patrimônio nasceu da garra da iniciativa particular, típica do povo paulista. Depois, estatizaram, virou cabide de emprego e foi saqueado. E São Paulo vai descendo a ladeira, de estado mais rico à condição de um estado qualquer.

Pregado no poste: “A cidade descarrilou”

 

 

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