Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Magnífico!

Quando o professor Victor Baranauskas anunciou ao mundo a obtenção do diamante a partir do álcool extraído de um simples pé de cana, aconteceu, acredito, a última grande manifestação internacional do prestígio desta nossa Unicamp. Seu reitor visitava a Universidade de Paris, no dia em que a notícia saiu no tão prestigioso quanto “Le Monde”. O reitor francês perguntou ao nosso: “Qual é o segredo para conquistar a primeira página do ‘Le Monde’, que há trinta anos tentamos e não conseguimos?”

A aura, o conteúdo e a fama permanecem, mas é cada vez maior e amiúde a chegada de mensagens de moradores próximos que não agüentam mais o ruído de falsos cidadãos que se aproveitam das imunidades e peculiaridades oferecidas pelo campus para extravasar os vermes de suas condutas mentais.

Talvez por erro de digitação, a última me chegou ontem, mas endereçada ao senhor reitor. Não está assinada (por medo da vingança dos vermes), mas desconfio de que sei a autoria. Diz:

“Moro na Cidade Universitária, a sete quadras da Unicamp. Segunda-feira, deitei-me às 23h00 e já ouvi ao fundo um som de festa na Unicamp. As 2h00, acordei de repente, som alucinadamente alto, letra emblemática: “Na nossa festa vale tudo ….”

Reviro-me na cama, outra vez e outra vez. Desço as escadas, ligo para a segurança da universidade:

— Boa noite, Sr.. Essa festa é na Unicamp?

— Bom dia. Sim é do DCE.

— O Sr. pode pedir pra abaixarem o volume?

— Posso, mas não adianta; a gente vai, pede e quando viramos as costas, eles aumentam.

— Sei; tem ai o telefone da casa do reitor?

— Um momento, vou consultar. Tenho, não.

— E tem da casa do prefeito da Unicamp?

— Também, não.

— E se houver um problema sério ai, como eles ficam sabendo? Pelo jeito vocês não têm como avisar!

Silêncio.

— O Sr. sabe o nome do reitor?

— Sim.

Ligo no 102 da telefônica, dou o nome e me dão um número. Pelo prefixo, não mora em Barão Geraldo. Ah, vou ligar, onde já se viu? Afinal ele é o responsável e tem de tomar  providencias. Olho o relógio, já são mais de 3h00 – ‘Não se liga na casa dos outros antes das 10h00 nem após as 22h00, é falta de educação’, ouço eu ao longe a voz de minha falecida mãe. Felizmente fui educada assim.

Bebo um copo d´água, apago a luz, subo as escadas e me deito e me reviro. O barulho já parece mais baixo. Pelas 3h20, quase parou; ouço buzinaço, motores roncam, pouco depois, muitos berros de pessoas que passam a pé, na maior algazarra, provavelmente voltando para suas casas depois do festão. Cães latem um após outro. Depois, silêncio. 4h20. Ufa! Já posso dormir — só tenho de me levantar às 6h00.

Pregado no poste: “Durma bem, Sr. reitor”

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