Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Ladrões espertos

Tempos atrás, conversamos aqui sobre o lugar mais seguro do mundo, onde ladrão algum ousa entrar, embora esse lugar guarde riquezas maiores do que qualquer banco ou caixa forte. É um lugar em que, se permanecer de portas abertas, dia e noite, nenhum bandido entrará para roubar. Claro, esse lugar é a biblioteca. Se bem que a Cláudia Pacce me contou, certa vez, vândalos aprontaram numa biblioteca onde ela ia lançar um livro.

(Acontece de tudo com a Cláudia Pacce: quando meninota – gostou, Cláudia? –, nós éramos quase vizinhos e sempre havia um circo armado perto de nossas casas, lá pras bandas do velho campo do Guarani, o “Pastinho”. A mãe dela sempre mandava a Cláudia e a irmã buscar esterco dos elefantes para adubar o jardim. Uma tarefa que as duas cumpriam religiosamente, antes de o dia clarear, para ninguém ver. Contei…)

Agora, leio uma notícia muito curiosa, dando conta de que descobriram ladrões em uma biblioteca. E não são marmanjos que assaltam os freqüentadores desse templo sagrado de leitura. Eles entram para furtar livros, mesmo! Inacreditável, livros já despertam a cobiça de ladrões no Brasil!

Quem conta essa é um amigo, o jornalista Ricardo Boechat, entusiasmado com a garotada: “Na Biblioteca Federal Euclydes da Cunha, Rio de Janeiro, freqüentada por estudantes de segundo grau, os livros mais roubados são os de Machado de Assis, José de Alencar e Mário de Andrade. Lá já são roubados 30 livros por semana!”. O Boechat pede aos policiais que, pelo menos para este tipo de crime, façam vistas grossas.

Como há gosto pra tudo, no mesmo dia, outra grande figura, a jornalista Hildegard Angel, filha da heróica Zuzu, conta esta: “O Alquimista, de Paulo Coelho, está em primeiro lugar na lista dos 35 livros mais importantes do século, selecionados pela Harper Collins, maior editora de língua inglesa do mundo, entre os mais de 120 mil títulos de seu catálogo: Sylvia Plath, Aldous Huxley, Thomas Pynchon, Doris Lessing, Gabriel García Márquez, Allen Ginsberg e Kundera.”. Diz a Hilde que o feitiço do mago funciona. Pois é… Um país que não lê, tem um dos escritores mais lidos do mundo. Por isso que lá fora ninguém entende o Brasil.

Pregado no poste: “O que você está lendo?”

 

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