Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Hoje tem espetáculo? Tem, não sinhô

Num sábado de férias como este, não se falava em outra coisa nesta cidade há uns 40 anos: “Hoje é dia de função no Circo Garcia”. Na Orosimbo Maia, atrás do Centro de Saúde, ou no terreno da Funilense, atrás da fábrica de Chapéus Cury, estava armado e iluminado o circo de Antolim Garcia, o rei do circo.

Quem era esse herói, morto vinte anos antes da falência de sua obra, contada terça-feira que passou pelo Rogério Verzignasse? Entrevistei Antolim duas vezes — na segunda, ele me presentou com um livro sobre sua vida, concluído em 1962, editado em 1976. Em vez de sintetizar sua memória, é melhor deixá-lo definir seu jeito de ver a vida. Diz Antolim:

“Mascarando a verdade, muitos homens alcançam a eminência. Cambalhoteando nestas páginas, o leitor encontrará palhaços em várias cores. Palhaços não são apenas os que comumente conhecemos, aquele personagem vestido espalhafatosamente, que a saltos esborracha o nariz no chão para gáudio das crianças. Essa profissão está hoje muito concorrida e desmoralizada existindo palhaços fora do circo, por toda a parte, em todas as atividades humanas. A indumentária não os identifica mais. Atualmente, trajam-se com roupagens diversas, de toga e capelo, cobertos de honrarias e mesmo de sotainas. Em lugar do grosso bengalão e dos tradicionais sapatões, usam bisturis, espadins e banda, breviários ou diplomas catedráticos.

A vida é um eterno ‘vaudeville’, como os de Labiche; os polichinelos aí estão firmes nos seus postos para fazer-nos rir. Não afirmarei que todos os portadores de bisturis sejam palhaços, mas o que, prevalecendo-se dele, assassina um indivíduo no ventre materno, impedindo por vil mercenarismo a realização de uma vida.

Não direi de modo geral que os togados sejam palhaços, mas aquele em quem devemos respeitar a toga e não o juiz. Palhaços de sotaina, classificam determinados tartufos, que não provindo de famílias vocacionalmente religiosas, transformam seu presbitério em celas alcoviteiras. São esses falsos palhaços que realmente nos fazem rir; os verdadeiros, de cara enfarinhada e sapatões, ao contrário, entristecem-nos, fazendo-nos chorar.”

Parece que foi hoje.

Pregado no poste: “Pague impostos, se não, coitadinhos dos políticos”

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