Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Gravidez de saudade

Testes revelam 17 garotas grávidas ao mesmo tempo e na mesma escola no interior dos Estados Unidos. Nenhuma tem mais de 16 anos, os pais têm mais de vinte, e família alguma comenta o pacto dessa aventura – aventura que gera seres humanos. Participaram do jogo 150 jovens e as 133 que não engravidaram estão em depressão. Num país aonde, de vez em quase sempre, um louco puxa o revólver e mata colegas, professores e funcionários, tudo pode acontecer. Por exemplo, não elegeram o Bush? Então…

Aqui, a matança coletiva é cometida contra o ensino. Há escolas públicas tornadas bordéis, redutos de traficante, sedes de quadrilhas… Entre em algumas delas, principalmente à noite, e tente falar sobre os malefícios das drogas, para você ver o que acontece (se é que dá tempo de ver…). Alunos, professores, funcionários são todos vítimas. Os culpados estão soltos. Numa espécie de ‘mesa redonda’ que fiz com traficantes da pesada na Penitenciária de São Paulo, eles em garantiram que não existe escola na Capital onde não haja pelo menos um traficante disfarçado de aluno, funcionário ou… professor. Sim senhor.

Em Campinas, já foi diferente, muito diferente. Quando a gente pedia para ir ao banheiro, era só para fazer xixi, cocô ou os dois, mesmo. (Tá certo que uma vez puseram uma bombinha num cigarro aceso e, quando a brasa chegou nela, um inspetor de alunos que estava lá fez os dois ao mesmo tempo… Em tempo: não foi o Treco, que Deus o tenha em Sua infinita bondade.)

Nessa mesma escola, se bem lembro em 1956, o pacto foi diferente. Os 16 alunos do terceiro ano do curso Clássico se deram conta de que, dali a alguns meses, depois de formados, a vida levaria cada um para um lugar e a verdadeira irmandade que os unia naquele templo se desmancharia.

Antes que a depressão tomasse conta daqueles rapazes e moças, eles decidiram… Atenção: decidiram todos serem reprovados. Tudo para que no ano seguinte, continuassem juntos. Dito e feito, para espanto dos professores, que nada podiam fazer contra a súbita indolência que dominou a vontade de estudar de cada um. Em 1957, estavam todos lá, juntos, felizes e contentes, alguns, castigados pela ausência de mesada, de festinhas de fins-de-semana, de cinema. Ninguém chiou. Queriam, mesmo, era ficar juntos, só mais um ano. E essa fraternidade ninguém pôde desmanchar. Nem a bronca indignada, publicada em editorial neste nosso “Correio Popular”, da lavra do ilustríssimo professor e jornalista Ernesto Alves Filho.

Pregado no poste: “Água morro abaixo, fogo morro acima…”

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