Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Figurinha difícil

Há quanto tempo você não vê um álbum de figurinhas? Nem se lembrava mais? Pergunte ao seu filho se ele sabe jogar bafo. Bom era jogar bafo à noite, na sarjeta, debaixo da luz do poste. Não sei por que. Nunca mais ouvi alguém perguntar “tem pra troca?”. Pois é, a origem dessa expressão vem do tempo em que se colecionavam figurinhas. Vinham embrulhadas nas “Balas Futebol”, vendidas nos bares da vida: “quinhentão”, cinco balas; um “barão” pagava o álbum. (“Quinhentão” era a velha moeda de 50 centavos do cruzeiro antigo e “barão”, o “cincão” com a cara do barão do Rio Branco.)

Algumas eram difíceis, outras, mais ainda – as carimbadas. Por isso, se chama uma pessoa que some de “figurinha carimbada”. Havia coleção de tudo: craques de futebol, artistas de cinema, cantoras do rádio, paisagens do mundo, índios, santos, personalidades, heróis de gibis. Alguns álbuns traziam histórias inteiras: Branca de Neve, Príncipe Valente, Falcão Negro, Jerônimo, Ivanhoé. Num tempo de pouca televisão, era uma forma de artistas e esportistas promoverem suas imagens, se tornarem conhecidos. A primeira vez em que vi a cara do goleiro Gilmar, em cores, assustei. Ele começava no Corinthians, nem era campeão do mundo ainda, aquele jogador, sem dúvida um dos mais elegantes do futebol. Na figurinha, parecia que tinha feito permanente…

Duro, mesmo, era encher os álbuns, para ganhar prêmios. Uma página de figurinhas fáceis valia uma bola Drible – de capotão, nº 5, “oficial”. Um sonho. Também davam liqüidificadores, aspiradores de pó, enceradeiras – eram os eletrodomésticos chegando e um jeito de convencer as mães a dar “quinhentão”, para comprar figurinhas. Mais cobiçados eram as chuteiras Gaeta, bicicleta Görich, o rádio de pilha “Spica” e, prêmio máximo, uma Lambretta! O jornalista Renato Otranto se lembra de ter ganho um gorrinho, autografado, do goleiro Chamorro (coincidência: Chamorro foi reserva do Cabeção, na Portuguesa…).

Hoje não há mais heróis de carne e osso, o futebol acabou, os craques só querem dinheiro e o que vende é um traste chamado Pokemón. Deus me livre!

Pregado no poste: “Bala de revólver traz figurinha de bandido?”

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