Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Falta pouco…

Aquela escola era tão moderninha que tinha aulas de strip tease — mas as alunas só podiam participar vestidas. Parece o Quico, implorando para Doña Florinda:

— Mamãe! Posso entrar na piscina!?

— Sim tesouro, mas cuidado para não se molhar!

Sinal dos tempos. Ainda nesta semana, saiu na seção “Correio há 50 anos” que a diretoria da União Campineira dos Estudantes Secundários, a velha Uces, enviara ofício aos colégios do Estado pedindo fim da exigência do uso de paletó pelos alunos. Veja o argumento: “O uso do paletó nos dias de verão é bastante higiênico (?). Realmente, somos forçados a concluir que aluno, vestido com pesado paletó em dias abafados, calor acima de 25 graus, não pode sentir-se verdadeiramente disposto a prestar atenção às aulas.”.

Você já percebeu aonde isso vai dar, certo?

Uns dez anos antes, não bastava o paletó: tinha de engravatar. Vigilância implacável. Sem a gravata, ninguém entrava na escola. E tomava advertência. Entrou para a história a que o diretor Euclides Pinto da Rocha escreveu na caderneta de um aluno do ‘Culto à Ciência’: “Excluido das aulas de hoje por se apresentar ao colégio despido” (!) Nada demais. Furioso, dr. Telêmaco, o diretor que veio depois, nem raciocinou: “Suspenso dois dias por sair sem entrar na escola.”. Grande mestre, não podia ver ninguém enforcando a aula: caçava os gazeteiros com seu carro por todas as adjacências, tomava as cadernetas e exigia que os pais fossem buscá-las – que vergonha!

Abolida a gravata, a obrigação era outra: colarinhos abotoados. E a humilhação também: “Você aí, com a camisa aberta! Vai dar de mamar!?”. A solução foi adotar o uniforme: sapatos e meias pretas, calça cinza-chumbo, camisa branca de mangas compridas e punhos abotoados. Aí, foi a professora Zilda Rubinski quem agiu em nosso socorro:

— Doutor Telêmaco, aluno não quer sujar os punhos; é justo deixá-los arregaçar…

— Está bem. Mas só duas dobras no antebraço!

(Não fosse ela mãe, obrigada a desencardir os punhos das camisas do filho Ismael…)

A inspetora de alunos Gladys Pierre, tão brava quanto adorada, entrou na classe já esbravejando: “Quem não estiver de meia preta pode ir embora pra casa!”. Atrás do Edmilson Siqueira, seu amigo Mané saiu resmungando: “A senhora falou quem não estivesse de meia preta – eu estou sem meia!”.

Enquanto isso, alunas das escolas públicas e particulares ousavam, erguendo a barra das saias de seus uniformes, (quase) imperceptíveis centímetros por mês. Infelizmente, não se chegou ao almejado (pelos marmanjos) encontro triunfal da barra com a cintura. Nem Geysi Arruda. Mas ela ganhou R$ 100 mil de uma revista para promover o encontro, esperado há mais de meio século. Hoje é numa revista, amanhã será na classe? (O quê!? Já é!?)

Pregado no poste: “Você se arriscava a subir no bonde de minissaia?”

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