Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

O mal e o bem

A diferença é a política.

Dia desses, a repórter Luciana Félix nos relatou esta tragédia:

“’A morte foi um alívio. Ver uma filha como vegetal durante quase três anos foi muito triste. E pensar que no próximo mês ela estaria se formando em medicina.’ O desabafo é do psiquiatra Renato Del Sant, sobre sua filha Carlota Isméria Del Sant, que sofreu sequestro-relâmpago em março de 2007 e foi encontrada no acostamento da Rodovia Santos Dumont, com traumatismo craniano. Carlota, na época com 21 anos, ficou mil dias internada em estado mínimo de consciência. Em outubro do ano passado, após 16 cirurgias, morreu no Hospital das Clínicas da USP.”.

Tenho certeza de que se a polícia estraçalhasse os bandidos que desgraçaram a vida dessa família, o lobby das turmas dos direitos “humanos” faria escândalo nacional em nome dos pobrezinhos. Mas, diz a Luciana, até hoje NINGUÉM procurou a família Del Sant e, estranhamente, NINGUÉM protestou contra os criminosos: interesse, covardia, conivência ou conveniência? É que defender quem mata inocente não dá audiência, “não dá mídia”. Já avisaram ao dr. Renato que entrar na Justiça atrás de ressarcimento do gasto que o Estado não lhe prestou para o tratamento da filha, é perda de tempo.

Dia desses, a jornalista Gabriela Yamada, da Gazeta de Ribeirão, relatou este exemplo de direito humano:

“Reintegração de posse em um mercado que tinha ratazana entre os alimentos e foi construído em área pública. A Prefeitura começara a construção de uma creche, que circundou a obra irregular. Parei do outro do lado da calçada a olhar a cena. Então, um rapaz diz:

— O que está acontecendo aí?

— É uma construção irregular. Precisa derrubar, né? Tem a creche para construir.

— Eu trabalho na construção da creche. Vim de Jundiaí para trabalhar aqui.

— Ah é? Veio parar aqui em Ribeirão?

— Lá, trabalhei na construção de escolas também. Sabe, eu gosto. É a segunda coisa que mais gosto de fazer: trabalhar como pedreiro.

— ?

— A cada creche que ajudo a fazer, sei que vai ser boa para cada criança que estudar. Faço parte do progresso. Eu me sinto bem sabendo que ajudei a construir uma creche, porque isso faz parte do progresso da sociedade. Cara, fico muito orgulhoso disso.

— E qual a primeira coisa que você mais gosta de fazer?

— Sou palhaço. Visito criança em hospital. Quer ver fotos?

— Quero!

Vai ao alojamento e volta com um álbum na mão.

— Aqui, estou no Hospital da Unicamp. Nesse dia fui com mais dois amigos, porque era muita criança e queria dar atenção a todas.

— É, dá para tirar uma grana extra, né?

— Dinheiro? Não! Não cobro! Qual é o valor do sorriso de uma criança? Não existe dinheiro que pague. Como não tem dinheiro que pague a creche pronta. Eu vou receber meu salário daqui, mas é pouco perto do bem que vai fazer para quem precisa.

Francisco, 34 anos, ensinou-me que nosso lugar no mundo depende de como a gente o vê. O que é status social perto da elevação espiritual e moral de um pedreiro?”

Pregado no poste: “Francisco vale mais do que todas as ongs de direitos humanos”

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