Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Estação Piscinão

— Alô! Você não imagina aonde o Trinca me trouxe depois do almoço!

— Ribeirão Preto!

— Não. Estação Rodoviária nova!

— É… Para quem chegou ontem de Paris, nada mais adequado… Afinal, Orly é aí e o Concorde é que unia as duas cidades. Só seis horas de vôo.

— Não acredito que depois de um almoço na Cantina Alemã, vim parar na Rodoviária. Lembra da cantina? Essa! Ali na Lusitana, da dona Adalgisa… Agora é do Luizinho, que foi garçom lá, e do filho dele, o Vinícius.

— Uai! É a nova atração turística. Para uma cidade acostumada a Viracopos, agora o jeito é ir para a nova praia, passar o fim de semana comendo coxinha, empada, pastel de carne, tomando garapa, raspadinha (ainda tem?). Lembra de quando gozavam os paulistas, que a praia deles era Congonhas?

— Espere um pouquinho… Toma.

— Alô, senhores ouvintes, estamos falando da nova Rodoviária de Campinas. O senhor é da Emdec? O que o senhor faz aqui?

(– Ô Trinca, deve ser salva-vida!)

— Eu oriento os passageiros, ensino o caminho para os guichês e aos poucos tudo vai entrando nos eixos.

— Muita gente de fora?

— De fora só quem chega. Aqui, a maioria é visitante de Campinas. Mas vamos ver amanhã, primeiro dia útil.

— Muito obrigado pela entrevista. Mais um visitante aqui. O Senhor é de Campinas? O que está achando da nova Rodoviária?

— Falta agência de banco. Não tem caixa automático. Ainda não vi se tem banheiro.

— Ah, banheiro tem sim, porque eu já fui. Em que banco o senhor tem conta?

— Bradesco.

(– Trinca, aí tem Casa Pernambucana? E Casa Bahia? Os farofeiros já chegaram?)

— Por falar em banco… Regina, cadê minha carteira!!! Será que já bateram minha carteira!? Ah, tá na sua bolsa! Mais um entrevistado aqui, amigos ouvintes. Como o senhor vê a nova Rodoviária.

— O terminal de ônibus está muito longe, pra lá do viaduto. Tive de vir a pé com minha senhora até aqui!

— Vejam amigos ouvintes. Bela homenagem ao engenheiro Ramos de Azevedo, patrono desta obra! Vou ler para os senhores o que escreveram aqui. Olha! Ele fez o prédio da Casa de Saúde!

— Esqueceram do Teatro Municipal de São Paulo, Trinca?

— Pô, mas tá muito cheio de gente aqui, meu! Voltamos aos nossos estúdios, em Ribeirão Preto.

Isso me lembra do dia em que inauguraram o shopping numa cidadezinha perto de Paraguaçu Paulista. Durante duas semanas, a população fez curso para aprender a andar na escada rolante. Foi nas auto-escolas, digo, auto-escadas. No começo, de cada cem que chegavam, um subia e 99 esperavam para rir do tombo.

Pregado no poste: “Paris ainda tem rodoviária?”

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *