Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Embrulhos

Você se lembra de quando o pão vinha embrulhado em papel de pão? Ainda existe papel de pão? Ótimo para fazer rascunho. E dos dropes Dulcora, embrulhadinhos um a um? Quando foram lançados, já diziam que dropes Dulcora são os eleitores brasileiros. E do leite, em garrafa de vidro e tampinha de alumínio? Existia também o iogurte em garrafinha. A paçoquinha de amendoim vinha em papel manteiga e o primeiro suco de laranja, numa bola plástica transparente. Punham os ovos em sacos de papel cheio de palha de arroz, para não se quebrar. Espantada? A carne era enrolada em jornal forrado de papel branco. Quanto jornal velho vendi pro seo Pires, pai do Cilinho, ali no açougue dele, no Mercadão! Pagava ‘quinhentão’ o quilo (Cinqüenta centavos de cruzeiro velho. Hoje, acho, aquela moedinha encardida só vale mais do que político. Nem colecionador aceita.).

É, a manteiga também vinha em papel manteiga; depois, a Leco usou papel laminado. Mas o sorvete de palito, se não fosse da Kibon, nem embalagem tinha. Ou você se lembra de ter visto picolé de groselha embrulhado em alguma coisa? Mel? A gente levava qualquer vidro na venda e comprava “déistão” de mel coado – dez centavos. Havia manteiga de garrafa e feijão em litro… Comprava-se frango vivo, levado com os pés amarrados na sacola de lona – não fosse vivo, como iam fazer o bicho ao molho pardo? Frango limpo era no jornal forrado, como a carne. Banana, abacate, tomate eram direto no jornal. A uva já era arrumada na caixa de madeira, mas demorou um pouco para o pessoal de Valinhos pôr figo nas caixinhas de papelão. O sal era vendido em saquinhos de pano, de um quilo, e o fermento, até hoje, pode ser a granel.

Agora, está tudo embalado. Até bananas – algumas vêm seladas. Carne de vaca, boi, bezerro, frango, carneiro, bode, javali, cobras e lagartos. Peixe, então, é um luxo: com gelo picado, em sacos plásticos, coloridos, o máximo! (Outro dia, num shopping, vi um aquário com peixe azul, roxo, bege, preto claro, branco-pipoca, verde-nenê, vermelho-salsicha… Falei para aquela santa que mora aqui em casa: “Acho que são de plástico…”. Um menininho à minha frente cutucou a irmã: “Vam’bora; são de plástico!”. Levei um tranco: “Onde já se viu enganar criança?!”)

E o leite, agora? Dura meses na caixinha! Quem diria!? Não coalha mais, para fazer o doce mais gostoso dos doces. Até as mamães têm passado por controle de qualidade, para garantir leite puro aos bebês, sem silicone! Sempre na embalagem mais bela do mundo.

Pregado no poste: “Pra que Legislativo e Executivo, se quem manda é o Judiciário?”

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