Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1998Crônicas

Eles estão voltando

De repente, foram todos embora. E aquele barracão, que o Paulo Francis comparava ao “porão do aeroporto de Bogotá”, ficou vazio. Lá dentro, só voavam moscas, enquanto lá fora, um que outro urubu. Muitas lendas e muito dinheiro foram contados para contar a história, ainda não contada de verdade, do abandono de Viracopos, trocado por um inexplicável Cumbica. Dizem que a Varig liderou o boicote e a campanha, porque a população de Campinas rejeitou trocar o nome — incrível para um aeroporto — para “Rubem Berta”, seu mais ilustre presidente. Lorota? Sei lá.

Falavam, até, que ela pressionou para que as outras também saíssem. A Swissair foi a última heroína da resistência. Sucumbiu em Cumbica. Nós conversávamos com comandantes de empresas aéreas estrangeiras e eles, vindo de países, digamos, mais sensatos do que o nosso com o dinheiro (e a segurança) de seu povo, não entendiam o que estava acontecendo. “Este é o aeroporto mais seguro do mundo; aqui, eu sou capaz de pousar com os olhos fechados e as mãos amarradas”, espantava-se um velho “lobo do ar”, quase um símbolo da extinta Panamerican, a PanAm, então a maior linha aérea que existia na face da Terra. E do Céu.

Os simpáticos holandeses, da KLM; os quase transparentes nórdicos, da SAS; os racionais alemães, da Lufthansa; os honoráveis japoneses, da JAL; os pontuais britânicos, da BUA e da BOAC; os alegres texanos, da Braniff; os belgas flamengos, da Sabena; os circunspectos árabes, da Royal Air Maroc e da Air Liban; os espanhóis, da Ibéria; os portugueses, da TAP; os franceses, da Air France; os gregos, da Olimpic; os falantes da Alitalia… E os nossos vizinhos da Aerolineas Argentinas; da colombiana Avianca; da venezuelana Viasa; da APSA-Aeroperu; da uruguaia Pluna; da paraguaia LAP; do Lloyd Aéreo Boliviano; das chilenas LAN e Ladeco (Linea Aérea del Cobre)… Depois do pouso, alguns não resistiam a um vatapá na Baiana, a um churrasco do Apostol Tako ou a uma esticadinha na Paraguaia, ali no Jardim Itatinga…

Como se vê, eram “pássaros” do mundo inteiro que preferiam aninhar-se na terra das andorinhas, antes de revoarem aos seus ninhos de origem. Depois, com a destruição planejada deste ninho, foram forçados a Cumbica e Galeão. Mas sempre que o tempo aperta, para não se espatifarem no chão, perdidos na neblina, voam correndo para este aero”porto” seguro. “Viracopos eu vou enxergar até da Lua”, brincou um piloto da PanAm, que sonhava ser astronauta.

Mas gastaram (e ganharam?) milhões para erguer Cumbica e acabar vendo Viracopos rindo deles, por qualquer chuvinha.

Agora, aos poucos, empresas aéreas, as brasileiras primeiro, estão se rendendo. Já há pássaros da TAM, da Rio Sul, da Transbrasil, da Pantanal e, semana que vem, a Vasp inaugura sua linha para o Rio de Janeiro e Salvador. Não demora e aquelas que saíram (pressionadas?) também voltarão a fazer seus ninhos por aqui.

Afinal, com congestionamentos todos dias, por causa de enchentes, excesso de veículos, acidentes e tempo fechado, já demora mais viajar de Cumbica à Praça da Sé do que de Buenos Aires a Cumbica. Não adianta desprezar Campinas porque os campineiros não quiseram mudar o nome do seu aeroporto. Quem faz de Viracopos o aeroporto mais seguro do mundo não é seu nome, mas o céu que cobre esta cidade.

 

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