Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1998Crônicas

Agora e na hora do nosso voto…

Campinas, terça-feira passada, esquina de Barão de Jaguara com Proença: mais um tiro na cidade mata um campineiro. Desta vez, a vítima da omissão deliberada de autoridades e da incompetência histórica da polícia é o dentista Fábio Biolcati Chiantia, 31 anos. Essas duas instituições fazem de Campinas um bom lugar para se morrer. Morrer violentamente, na mesma proporção da violência com que o povo é tratado por autoridades omissas, policiais incompetentes e bandidos de ocasião. A ocasião faz o ladrão: aqui, a indiferença de policiais e autoridades faz a ocasião.

Conta o nosso Bargas Filho, estarrecido e acostumado à bandalheira, que quase 24 horas depois de a omissão oficial ter matado o dentista, as únicas testemunhas do crime não tinham sido nem procuradas pela polícia. Moradores próximos do local da tragédia também não foram ouvidos. A polícia sabe que o lugar é dominado por drogados. Alguma autoridade já fez alguma coisa para socorrer aquelas vítimas ou enfrentar os traficantes que as subjugam? Duvido: enfrentar bandidos precisa coragem e ser, de fato, inimigo deles. Claro que a “tchurma” dos direitos humanos não se preocupou em dar assistência à família do doutor Fábio. Afinal, ele não era bandido. Caso o assassino fosse abatido por um policial, coitado do policial. Não entendo a cumplicidade dessa “tchurma” com a bandidagem. Será que levam alguma vantagem?

Quer matar e roubar? Venha para Campinas e aproveite: não acontece nada. Aqui, as autoridades estão preocupadas com eleição; com o Ibope do FHC; em costurar alianças; com a arrogância do Lula contra o tal de Palmeira; com os frangos criados pelo Maluf e seu sócio Pitta não sei das quantas; com jantares em restaurantes sofisticados; em viajar para o Japão; com o joelho da Carla Peres (aquela que tem um grande futuro por trás…); com a presença de “figurões” em convenções; em exibir a cara de pau em outdoors; distribuir “santinhos” (todos do pau oco) ou em participar de programas para falar besteiras e mentiras no rádio e na televisão. Aliás, em ano eleitoral, muitos políticos se tornam homens e mulheres de programas, nem que seja de rádio e de TV. É ou não é?

Na Polícia Militar, o comando está preocupado em se candidatar a deputado, federal ou estadual, não importa, desde que consiga mais uma “boquinha’ para viver as custas do povo que trabalha para lhes pagar o salário e recebe de volta um péssimo serviço. Nunca vi uma polícia tão “ruim de serviço” como a de hoje. Mas quando a vítima é alguém “da casa”, o caso é solucionado rapidinho. Já perceberam? Como o doutor Fábio não era “da casa”, mas apenas um cidadão honesto e trabalhador, ninguém faz nada, nem para defender da violência pessoas como ele, nem para prender os que matam ou roubam pessoas como ele.

Enquanto isso, o desemprego cresce; a educação degenera; a saúde adoece; os salários (só os do povo que trabalha) encolhem; crianças trabalham para ajudar no sustento da família; o tal de FHC viaja; a dupla Lula e Brizola se apresenta em palanques atrás de votos da fome; seo Pagano anda de caso com o Maluf; o Covas humilha os professores; a política faz o MST perder o caráter e se transformar num bando de ladrões saqueadores e a Nação naufraga.

Uma coisa é certa: o doutor Fábio, que a cidade perdeu há uma semana, é alguém que faz falta. Os verdadeiros culpados por seu desaparecimento não fazem falta nenhuma.

Pregado no poste: “Esse tal de João Pedro Stédile não é um novo “cabo Anselmo”?”

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