Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

E tudo funciona

Ter aparelhos elétricos em casa era sinal de status: aspirador de pó, enceradeira, batedeira, liquidificador, rádio-relógio, vitrola, geladeira, televisão, espremedor de fruta (isso tem outro nome?), exaustor… Hoje, ter um aspirador de pó em casa, por exemplo, pode dar cadeia.

A Maria do Chedda mandou um filme com a Regina Casé exibindo o Pedro Cardoso a caminho da loucura, quando tenta falar com a incrível Bianca Byngton na assistência técnica de uma dessas bugigangas.

O “curta” tem seis minutos, mas para quem pena na mão dessa bandidagem parece a vida inteira. A cada enrolação, eu me sentia aliviado.

Celular? Tenho vergonha, parece que a gente está falando ‘suzinho’, e faz mal para a saúde. Às vezes, explode. Fax? Coisa mais antiga! Não assino TV a cabo – só quando passar programa inédito e os serviços de defesa do consumidor não registrarem mais queixa alguma contra os cabos da vida. Minha TV é tão velha que não pluga DVD; o videocassete quebrou há anos e não faz falta.

É bom ver TV velha. Pega até estação que já fechou: na minha passa O Fino da Bossa, Bossaudade, Capitão Sete, Times Square, Sabatinas Maizena, Pica-pau, A Bola do Dia, Gincana Kibon, A Turma dos Sete, Raul Tabajara narra futebol, Pimp-pam-pum, luta-livre com Gatica, Goitia, Elias Joki, Phantomas, o circo do Arrelia, sessão Zas Trás, Rim Tim Tim, Roy Rogers, ‘Nacionaro’ Kid…

A máquina de lavar louça sou eu. Secador de cabelos é o sol. O som vem de uma vitrola que toca vinil (ou você acha que Chico Alves seria o Rei da Voz num CD?).

Gastou a mola do telefone de disco e não acho uma sobressalente (‘sobressalente’ você não esperava, né?). Troquei por uma analógico, lógico — digital aqui, só a impressão dos usuários.

A campainha faz “brééiim”. ‘Din-don’, a gente não ‘escuita’ mais. A água sai do pote, às vezes da moringa – ozonizada, pelo nome, não deve ter boa procedência. Enquanto a gente agüentar ir até o banheiro à noite, tudo bem. Mas já compramos penico pra quando a ‘vechiaia’ chegar. Penico de ágata, com tampa idem. Na loja, pedi ‘urinol’: a vendedora não sabia o que é nem pra que serve.

As torneiras têm courinho. A mais nova, na pia de pedra de granito da cozinha, tem nove anos. O chuveiro esquenta quando a gente liga uma chave na parede com um pedaço de cabo de vassoura.

Não tenho homesiter. Só home. Por isso, minha home é sweet home.

Pregado no poste: “Agosto acaba depois de amanhã”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *