Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

É hoje

“Festa da democracia” uma ova. Só o fato de ser obrigado a votar, se não apanha no bumbum, digo, no bolso, feito criança mimada, é antidemocrático. “Você é livre, desde que faça o que eu mando e não o que você acha melhor naquele momento”. E esse é só um pedaço da hipocrisia da política – e dos políticos, porque ele é que fazem as leis, inclusive essas que promovem a impunidade. A polícia prende, mas é a lei que manda pôr na rua. (Ou será que todos têm coragem de legislar contra o crime?).

Nesse horário eleitoral, nunca ouvi nem vi no espaço reservado ao TRE a orientação de como proceder para anular o voto. Anular é um direito de todo eleitor e, em certos países, um dever. Se é um direito, o Ttribunal é obrigado a orientar. Foi um custo achar aqui no Fórum de Ribeirão alguém ensinar que se anula o voto apertando números fora da lista de candidatos. Parece que a autoridade tem medo de informar ao povo os direitos do povo.

Cidadãos podem achar os candidatos tão ruins que, no fim da apuração, descobrirão que a vitória não foi da maioria. Basta somar os nulos e as abstenções e perceber que votos dos eleitos são os votos inúteis.

Nas eleições de hoje em dia, não há nem como protestar, como se fazia “ontem em dia”. E se o eleitor preferir o “Cacareco”, ‘eleito’ com estrondosa votação para a Assembléia Legislativa de São Paulo, em 1962? Os jornalistas Boris Casoy, Luís Maria Figueiredo e Fernando Brisolla de Oliveira juram até hoje não ter nada com a idéia de pichar os muros da cidade de São Paulo, pedindo votos para o simpático rinoceronte que havia chegado para o Zoológico naquele ano.

Era uma festa mais democrática. O povo votava em quem queria, mesmo, escrevendo na cédula suas preferências: Cacareco, Bandido da Luz Vermelha, Promessinha, Luz del Fuego, Mané Fala Ó, Gilda, Caryl Chessman, Fidel Castro, Garrincha, Amarildo, Tony Gato, Cabrita, Dito Flecha, Dito Colarinho, Firma Nega, “celebridades da época”, como a coqueluche de antanho: Brigitte Bardot. Sei não, mas tirando os bandidos, acho, seríamos mais felizes. (Fidel Castro não é nenhum mocinho, viu?). O professor Enéas, longe de ser um “Cacareco”, nada a ver, está muito perto de ser um voto de protesto.

Se você acha que essa gente que passou pelo rádio e TV nos últimos tempos é digna do seu voto e de cumprir o que prometeu, vote e seja responsável por tudo o que vier depois.

Pregado no poste? “E se todos perderem?”

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