Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

De pedra, de aço e de alma

Uma vez, há muito tempo, um oficial do Corpo de Bombeiros de Campinas, o tenente Coelho, disse a um atônito cônego Caran, após uma inspeção em nosso templo maior: “Padre, sua igreja está sob proteção divina!”. Palavras salvadoras daquele bravo “homem do fogo”. Seu alerta serviu para a recuperação e salvação da nossa Matriz.

Ontem, me chegou o jornal do dia 20 e na “Cena Urbana”, que marca diariamente a página 2 do caderno “Cidades”, uma foto espetacular da repórter Marina Passos me fez viajar no tempo, mas desta vez, daquela tarde longínqua para a Campinas de hoje. Lendo todas as notícias daquela edição e deparando com aquela imagem fixada pela Marina, dá vontade de cochichar no ouvido do senhor prefeito: “Seo Pagano, a minha, a sua, a nossa cidade está sob proteção de quem?”.

Os anjos guardiães da torre da casa de Nossa Senhora da Conceição soam as trombetas clamando aos céus proteção. Mais: socorro. Deus, sabedor de como tudo anda mal por aqui, mandou um helicóptero da Polícia Militar. E lá estão eles nas alturas, os anjos de pedra e o arcanjo de aço, tentando salvar as campinas ora assoladas por violência, corrupção, sujeira, abandono – tudo desamor por esta terra.

Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. Sempre há uma vereda para o recomeço. Tudo depende dos homens e da boa vontade de um gesto de solidariedade. A luz brilhou na mesma “Cena Urbana”, na mesma página 2 do mesmo caderno “Cidades”, cinco dias depois. Brilhou na edição de quinta-feira. E a protagonista da imagem mais bela daquele dia é a de uma jovem anônima, altiva, elegante, bonita. Estaria se exibindo para o fotógrafo Gustavo Magnusson? Não!

Nós fomos premiados pela sensibilidade desse repórter, que flagrou no Mercado Municipal a mais fascinante demonstração de humanidade e amor ao próximo. A jovem — quem será ela? – faz de mãos dadas com um paraplégico preso a um carrinho de rolemãs a travessia de uma via tomada por automóveis. Quem será ele?

Ele e ela podem nem ser parentes, amigos ou conhecidos, até. Que imagem linda! Quem viveu aquele momento ou presenciou aquele gesto deve ter aprendido uma lição de amor e desprendimento. Seu eu estivesse no Mercadão naquela hora, aplaudiria sem parar aquela garota guerreira, que mostrava a todos quanto vale uma campineira.

Essa fotografia é a mais expressiva manifestação de que Deus fez o homem à Sua imagem e Ele nos ensina essa mensagem dia a dia nas esquinas da cidade. Mas poucos, quase ninguém, têm tempo para parar e pensar no grande espetáculo da vida que nos cerca e nem sentimos.

Aquele helicóptero da Polícia Militar é um anjo de aço; aquele anjo com a trombeta no alto da Catedral é um anjo de pedra; mas aquela garota de mãos dadas com o homem paraplégico é um anjo.

Jamais a igreja católica foi ou será capaz de fazer um quadro tão verdadeiro para ilustrar as suas mensagens para a campanha da fraternidade.  Essa foto do Gustavo Magnussom deveria estar imensa na porta de entrada de cada templo deste mundo. Se todos agirmos como aquele anjo de verdade, a guerra sumiria até dos dicionários.

Um beijo, meu anjo desconhecido, você me emocionou.

Pregado no poste: “Ainda há esperança!”

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