Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Eles não têm culpa

Acontecem mais ataques de cachorros contra o homem do que acidentes de trânsito. Pode pesquisar. Eles também fazem mais vítimas de sua violência diariamente do que os assaltantes. Mas há uma diferença: o mau motorista é o responsável pelo acidente e o marginal, pela agressão à sociedade. Culpar o cão pelo ataque é o mesmo que sacrificar o galo cantor, o passarinho por seu canto ou as maritacas pela zoada. Nem o papagaio tem culpa pelos palavrões que “diz” por aí.

A moda, agora, é o homem atacar o pittbull, o fila e o rotweiller pelos estragos que essas feras estão aprontando no país inteiro. São feras criadas pelo homem, via aberrações genéticas. Só o homem é capaz de cometer aberrações contra a natureza. Na Terra, a excrescência é o homem, nunca os animais. Eles e todas as formas de vegetação viveriam muito bem por aqui, melhor ainda, na ausência do homem. Ao contrário, o homem jamais sobreviveria neste mundo sem animais e plantas. Até  remédios que curam doenças humanas são testados em animais ou obtidos a partir das plantas. Extrema e vital dependência. Portanto, neste mundão de Deus, o corpo estranho é o homem.

Os animais não matam nem desmatam, não queimam nem destroem, não invadem nem ocupam a não ser por estrita necessidade de sobrevivência – nunca por interesses políticos ou ideológicos. Seu “conceito” de existência e uso territorial é exclusivamente ecológico, jamais de posse para subjugar um semelhante. Um animal não mata nem agride outro por prazer ou para roubar. Essa conduta degenerada é apanágio do homem.

Desde que ele passou a domesticar o animal para colocá-lo a seu serviço, começou o desequilíbrio. Longe do homem, um touro, coitado, jamais teria de pesar um tonelada ou inseminar 800 vacas por dia. Tudo artificial. Tudo obra do homem. Não contente em aprimorar raças para produzir mais alimentos, esse homem quer ver animais se matando e matando outros homens. Nenhum galo nasceu “galo de briga”. Nem passarinhos, para matar o rival numa gaiola e ficar com a única fêmea. Isso é criação do homem, não de Deus.

Num Jardim Zoológico, a platéia se deslumbra com os bichos expostos que, certamente, devem sentir pena da platéia. Se fosse mais esperto e observador, o homem perceberia que tem muito a aprender com os animais, principalmente fidelidade, lealdade, liberdade com responsabilidade, respeito, carinho, dedicação, solidariedade e vocação para o trabalho. Jamais a mãe “ensina” coisas erradas para seus filhotes – isso eles aprendem, infelizmente, com o homem. Nenhum bicho vive à toa nem está à toa na vida. Enquanto isso, há muita gente à toa por aí…

Agora, o homem quebra a cabeça para legislar sobre a conduta dos cães que vêm atacando o homem, mas por culpa exclusiva do homem, que criou e treinou cães para matar! Mas a arma já está criada. Claro que a saída é proibir a criação, a comercialização e a exibição dessas feras, até que se extingam. Multa pesada contra os criminosos (os criadores, não os cães). E seria muito bom que a lei exigisse dos donos que, ao sair com suas “ferinhas” pelas ruas, também usassem focinheira e coleira, para mostrar a todo mundo que o criador é igual à sua criatura.

Pregado no poste: “Melhor um cachorro amigo do que um amigo cachorro”.

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