Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Comunica

Esta história, passada nos tempos árabes das mil e uma noites, mexe com a alma de qualquer profissional de comunicação. E muita gente já deve conhecê-la. Ouvi pela primeira vez ainda esta semana, num programa de televisão local, contada por moça humilde, que não conheço, mas muito comunicativa. No seu jeito simples de ser, ela trata o assunto como piada. Mas, para mim, é uma lição que deve ser aprendida por todos os jornalistas.

O sultão acordou muito intrigado. Sonhara com a perda de todos os seus dentes. Chamou um dos bruxos da côrte para interpretar o sonho, e o dito cujo o apavorou: “Cada dente caído é a perda de um parente”, avisou. Enfurecido, o sultão mandou o carrasco açoitar o pobre adivinho 100 vezes. E chamou outro bruxo, que disse: “Calma, mestre! O senhor sobreviverá a todos os seus parentes!”.

Aliviado, o dono do pedaço premiou o feiticeiro com 200 moedas de ouro.

Um bajulador, que a tudo assistia, não entendeu nada e se dirigiu ao sultão: “Como o senhor ordena chicotear um e oferece 200 moedas de ouro para o outro? Que diferença existe entre a interpretação desses dois?”

“A sabedoria, disse o sultão, está na forma com que se transmite o fato. O primeiro bruxo deixou-me assustado, chocado, com sua previsão. O outro disse o mesmo, mas de forma mais suave; cheguei até a sentir certo alívio, embora não seja o caso.”.

Essa mensagem tem sua versão brasileira, muito famosa. Um homem disse ao outro: “Seu gato caiu do telhado e morreu!”. O outro reagiu: “Não é assim que se deve contar uma tragédia. Você teria de ir aos poucos, explicando que meu gato subiu no telhado, saltou sobre um rato, escorregou, caiu e morreu.”. Dias depois, o mesmo homem mostrou que aprendera a lição: “Fulano, sua mãe subiu no telhado…”.

Como o jornalista Humberto Mesquita definiu certa vez, a única diferença entre certa rede de TV e as demais: “Uma tem dinheiro para embalar o lixo em papel de presente; a outra, não. Entendeu?”

Não foi bem “lixo” que ele disse, mas entendi.

Pregado no poste: “A turma dos direitos humanos não vai protestar contra a ação do PCC!?”

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