Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Infame

Mas como hoje é domingo…

Foi logo depois que mataram Joãozinho Kennedy, lá em Dalas, Texas, Urgente. Do alto de um prédio, na janela de um depósito de livros, Lee Oswald, armado com um fuzil, disparou e acertou na cabeça do presidente do mundo. No Diário do Povo, o sininho do teletipo da United Press International disparou, anunciando notícia urgente: “Kennedy Dead”. Não sei o que eu estava fazendo ali, mas, meninos, eu li!

A suspeita sobre Oswald veio várias horas depois. Antes, os culpados eram Fidel Castro, Che Guevara, Palmiro Togliatti, Georges Marchais, Álvaro Cunhal, Brezhnev, Janos Kadar, Marechal Tito, Ho Chi Mihn e outros comunistas menos votados d’antanho. Mas quando descobriram como Oswald agira, virou mito.

Do alto do edifício que hoje abriga no térreo uma agência do Banco Itaú, Ariovaldo Pirotello cirurgião-dentista, pai da Márcia, tinha seu consultório. Da janela no fim do corredor, via-se a Avenida Francisco Glicério. “Que lugar para se atirar em alguém!”, pensei. “Que nem o Lee Oswald!”, entusiasmou-se Luís Carlos Rossi, o ‘Lemão’, embaixador de Cosmópolis em Campinas.

Fiquei com aquilo na cabeça. Logo depois que os militares impuseram sua ditadura, o marechal Castello Branco veio a Campinas, para lançar a Unicamp e, claro, visitar o Castelo, que agora será tombado, e na época fora pintado de branco pelo prefeito Ruy Novaes, só para puxar o saco do primeiro ditador.

Castello desfilou em carro aberto pela Glicério, ao lado do então senador da Arena Carvalho Pinto, e do dr. Ruy. Do Largo do Rosário, eu olhava para a janela daquele prédio: “Será que alguém vai atirar?” Que nada! Na madrugada de ontem, sonhei que Fidel Castro e Che Guevara desfilavam em carro aberto pelo Vale do Anhangabaú. Construíram uma arquibancada para a imprensa acompanhar a passagem daqueles dois. Amassei uma lauda do ‘Estadão’ (era no tempo da lauda), fiz uma bola e atirei neles. A bolinha bateu na boina do Guevara e explodiu. Acordei no meio da fumaceira.

Contei o sonho pro Lemão e ele se lembrou: “Se fosse do gabinete do Ariovaldo Pirotelo cirurgião-dentista, na cabeça do Castello, bem na hora em que tocavam o Hino Nacional, seria um “crime dental com hinos”…

Pregado no poste: “Quem vota no Lulla também não sabe nada?”

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